Firmino foi esquartejado com motosserra em 1996, em Rio Branco.
Após 19 anos, Emanuela diz que soltura de Hildebrando é ‘frustrante’.
“Meu pai não pôde ver eu me formar na semana passada. Por muito tempo não pude sequer levar uma flor para o túmulo dele, porque foi enterrado como indigente na época. Depois de quase 20 anos, a gente ainda não se recuperou”, disse. O desabafo é da assistente social, Emanuela Firmino, de 34 anos, sobre a morte do seu pai Agilson Santos Firmino e de seu irmão, então com 13 anos, Wilder Firmino, mortos em 1996, em Rio Branco, pelo grupo de extermínio que atuava no Acre na época, denominado Esquadrão da Morte.
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Atualmente, Emanuela prefere manter o estado onde mora em sigilo. Ela também resguarda a sua imagem, da sua mãe e de seu irmão sobrevivente. No dia do crime, ela diz lembrar de tudo o que aconteceu e de como recebeu a notícia da morte de seu pai. Após ouvir no rádio sobre o crime, ela viu o corpo do seu pai machucado e com os membros serrados estampados em telejornais locais. O caso ficou conhecido como ‘Crime da Motosserra’.
Ela vive com a mãe Evanilda Firmino, de 59 anos, e um irmão de 32 anos. O crime ainda é um tema muito dolorido na família. “É complicado porque a gente perdeu tudo que tinha. Meu pai nunca foi bandido, sempre foi um homem de bem, só estava na hora errada, no momento errado e com a pessoa errada. E sem falar no meu irmão, que tinha 13 anos, e foi brutalmente assassinado com ácido”, diz.
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Em 30 de junho de 1996, Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando, foi morto com um tiro por José Hugo e Firmino teria presenciado a cena. Emanuela esclarece que o pai não teve envolvimento com o crime. “Meu pai sempre foi honesto, sempre trabalhou para manter a família. Ele não teve nada a ver com o assassinato, ele estava no lugar errado, na hora errada. Na época disseram que ele era bandido, mas meu pai tinha saído para levar o carro ao conserto, quando aconteceu tudo”, explica.
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No dia do ‘Crime da Motosserra’, Emanuela diz que homens se identificaram como policiais e levaram primeiro sua mãe. “Disseram que meu pai foi pego bebendo e dirigindo e que estava na delegacia. Minha mãe foi, em seguida os policiais voltaram e disseram que ela estava pedindo que um filho fosse encontrá-la, eu disse que ia, mas disseram que mulher não podia. O Wilder então foi com eles”, conta.
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Sem o marido e sem o filho, Evanilda nunca passou por um acompanhamento psicológico. “Ela não teve esse apoio. Até hoje, todos os dias a minha mãe chora. Ela tenta mostrar que superou, mas quando ela não chora na nossa frente, a gente vê na fisionomia do rosto dela que estava chorando. É complicado, ela perdeu um filho, perdeu tudo”, lamenta.
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Emanuela tinha 15 anos e recorda que a última vez que viu o pai, foi um dia antes do crime, porque no dia em que tudo aconteceu ele teria saído bem cedo de casa e ela ainda dormia. “No dia anterior, ele estava bebendo em um bar perto de casa e fazia muito frio. Chegou em casa acordando a gente e desafiou que daria R$ 100 para quem fosse tomar banho de água gelada. Fui a única a ir, quando estava indo ao banheiro, ele me parou e disse que eu sempre devia lutar pelo o que queria. Em seguida, enrolou meus pés e disse: ‘Tá vendo como é bom ter um pai?'”, emociona-se.
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Sobre a possível ida de Pascoal para o regime semiaberto, ela se diz leiga quanto às leis, mas é categórica ao dizer que acha injusto. “Eu me sinto frustrada como brasileira em ver alguém com mais de 100 anos de condenação ser solto. Se a Justiça acha que é correto, tudo bem, isso não vai influenciar em nada na nossa vida porque temos a consciência tranquila de que nunca fizemos mal a ele”, destaca.