Carta: O que há por trás da obsessão com o voto impresso?

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Carlos Veras

Arthur Lira (presidente da câmara) e Bolsonaro, presidente

O que há por trás da obsessão com o voto impresso?… 

 

O sistema eleitoral brasileiro, referência em eficiência para o mundo, é totalmente seguro, auditável e nunca se revelou vulnerável.

Quase meio milhão de pessoas perderam a vida para a Covid-19 no Brasil. A extrema pobreza bate recorde, com 40 milhões de pessoas na miséria. São mais de 14 milhões de desempregadas e desempregados. O combate à pandemia deveria ser o tema central do governo federal. O Brasil precisa de vacina no braço e comida no prato. Mas, infelizmente, os problemas reais do povo brasileiro não são prioridade. Bolsonaro parece só ter olhos para as próximas eleições, desde o primeiro dia de governo. Eleito seis vezes pelas urnas eletrônicas, hoje prioriza a impressão do voto sob o argumento de combater fraudes, o mesmo que usou décadas atrás para defender o oposto.(…)

Após ganhar no 2º turno as eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro alegou que teria vencido no 1° turno se não fossem as fraudes e que poderia provar, o que não fez até agora. No último dia 14 de maio, afirmou que, se não houver voto impresso em 2022 e Lula for eleito, será na fraude. Meses antes, após a derrota de seu ídolo, Donald Trump, Bolsonaro, sem provas, falou em fraudes nas eleições dos Estados Unidos, onde parte do voto é impresso, deixando o Brasil em uma situação embaraçosa diante do novo presidente norte-americano, Joe Biden.

Nada errado com a volatilidade de Bolsonaro, mudar de opinião é um direito. Nada errado com quem defende o aperfeiçoamento do processo eleitoral, apesar de o sistema coordenado pelo Tribunal Superior Eleitoral se mostrar plenamente confiável. Entretanto é uma irresponsabilidade sem tamanho colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral sem apresentar fundamentos sólidos, colocando em risco a democracia brasileira. Não se pode tentar criar na sociedade uma falsa percepção de insegurança. Bolsonaro apenas brada “fraude; fraude; fraude”, mas não comprova nada.

O sistema eleitoral brasileiro, referência em eficiência para o mundo, é totalmente nacional, seguro, auditável e nunca se revelou vulnerável. De acordo com o TSE, as urnas eletrônicas têm cerca de 30 camadas de segurança e nenhum componente do sistema é ligado à internet, o que impede o acesso de hackers. São 25 anos sem nenhuma fraude. Se houvesse, um agricultor familiar do sertão pernambucano, sem conhecimento tecnológico algum, por exemplo, jamais teria sido eleito deputado federal em 2018, como no meu caso.

O custo estimado para a impressão do voto é de 2 bilhões de reais. Com esse dinheiro daria para pagar três milhões de benefícios do auxílio emergencial, não no valor de 150 reais de Bolsonaro, mas sim no de 600 reais, como defendem o PT e demais partidos de oposição.(…) O Brasil precisa arcar com esses custos por uma superficial alegação de fraude sem qualquer prova?…

O debate está posto. O presidente da Câmara dos Deputados instalou comissão especial para discutir a emissão de uma cédula do voto eletrônico a ser depositada em uma urna física (PEC 135/19) em referendos, plebiscitos e eleições no País. A base governista domina o colegiado. O papel da oposição será trazer clareza sobre o processo eleitoral à população, com esclarecimentos de técnicos e especialistas eleitorais.

(opinião Carta Capital)

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