A tradição religiosa que me formou lida ideias engrenadas, com propostas imbricadas em causa e efeito.
Me tornei ateu do Deus retributivo e punitivo.
Dou adeus à sistemática aos dogmas, às apologias fundamentalistas.
Tenho preguiça de tudo isso.
Ando convicto de que é perda de tempo argumentar com quem se organiza a partir de certezas.
Já que me recuso a rodopiar em torno do poste da verdade final, não serei um leão acorrentado aos ditames dos pontífices da reta doutrina.
Dou adeus às brigas religiosas.
Lógicas circulares não levam a lugar nenhum, apenas acirram rancor nos excessivamente justos.
Já não tenho bílis para reagir a debates que dependem de um só viés.
Quem pretende ser o guardião da verdadeira doutrina nunca dialoga. O velho Jorge Luis Borges tem razão: “os argumentos não convencem ninguém”.
Não busco atingir o porto dos bem-sucedidos por serem exatos – meu porto deve ficar em algum lugar além de qualquer horizonte.
Me basta continuar a singrar os oceanos infindáveis da poesia ao lado de quem amo.
Repito com Paulinho da Viola: “a vida não é uma equação”.
Minha prece virou ladainha: – Dá-me coração de poeta, músico, repentista e contador de estória; quero ser qualquer coisa que lembre a maluquice dos apaixonados.
Desejo saber cantar ao mundo e assim cantar a TI, à tua imensidão e ao teu amor.
Ricardo Gondin, Igreja Betesda