Crônica de Dandão: Meu amigo Cláudio

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Francisco Dandão – José Cláudio Mota Porfiro, xapuriense de boa cepa, poeta, cronista, palestrante, doutor, meu prezado amigo de uns bons cinquenta anos, saltou para o abismo da metafísica na semana passada e foi morar no infinito, no topo de alguma constelação, em um lugar qualquer do espaço sideral!

Fiquei chocado quando soube da sua partida. Não que a morte seja algo estranho para quem vive. Mas pelo abrupto, pelo repentino, assim sem mais nem menos. No dia anterior mesmo, ele que se mostrava bem saudável, havia feito um comentário em uma postagem minha numa rede social.

Eu publicara uma fotografia do Teatro dos Náuas. E ele, que desde a adolescência saía cheio de cadernos e livros do bairro Cadeia Velha, louvando a ideologia socialista, fez o seguinte comentário: “Conheço. Esse teatro também tem a pegada da esquerda. Assim como a ponte e muito mais”.

E fora isso, ele, que estava vivendo em São Paulo, quando soube que eu havia armado a minha barraca no Rio de Janeiro, me prometera uma visita para meados de abril. Na verdade, numa conversa que tivemos no mês de janeiro, ele disse que viria no carnaval. Depois adiou para o dia 18 deste mês.

Disse-me que ficaria no Rio entre 18 e 28 de abril. A ideia era passar o seu aniversário de 66 anos na Cidade Maravilhosa. E me convocou para uma noitada no Bar do Zeca Pagodinho, nas imediações do Aterro do Flamengo. Tudo devidamente combinado, eu estava esperando por ele.

Disse-me que tínhamos muito a conversar. Ele, que costumava me chamar de “Doutor”, “Bacana” ou “Negão”, queria a minha opinião para um livro de memórias que estava escrevendo. Obra que já contava com mais de 300 páginas, mas que, segundo ele, o relato não chegara sequer à metade.

Também planejava, dentro de uns dois anos, atravessar o país para se radicar na Paraíba, ou cruzar o oceano para Portugal. E como ele achava que eu era um cidadão do mundo, tanto de percorrer quanto de morar em muitos lugares, queria que eu falasse dos prós e contras de um sítio e do outro.

Não conversávamos cara a cara há muito tempo, mas sempre trocávamos mensagens pelos aplicativos da internet. Não nos víamos, mas não nos perdíamos de vista. Ele lia as minhas crônicas e eu curtia a sua prosa elegante e os seus versos inspirados nas mais belas e diversas musas.

Meu amigo Cláudio Porfiro, quase no fim do seu caminho terreno, deixou a selva amazônica pelos braços de concreto da “paulicéia desvairada”. E num dia de outono do hemisfério sul se tornou uma lenda. Tinha nas palmas das mãos o destino, mas não pôde mudar a própria sorte!

Francisco Dandão, cronista e tricolor

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