Crônica de Dandão: Atrações da noite

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Francisco Dandão – São inúmeras as atrações da noite para os adultos que adoram uma boêmia. Às vezes, os notívagos inveterados nem tem a intenção de se espaldar numa esbórnia. Quando saem de casa, a promessa que fazem a si mesmo é a de tomar só uma cervejinha (pra matar a sede) e voltar rapidinho.

Na prática, porém, uma cerveja puxa a outra, o papo rola solto, os maiores problemas da humanidade são resolvidos e quando os bem-intencionados membros da confraternização se dão conta, lá se vão horas da madrugada. Lá se vão horas e a cabeça, a essa altura, já está além de Bagdá.

E veja-se que eu falei apenas de uma inocente cervejinha numa mesa de bar. Se na farra for incluída uma boate, ou um night club (antigamente se dizia lupanar), cheio de mulheres de formas opulentas e com cheiro de patchouli, então, a coisa se complica muito mais e o tempo se comprime.

Aí, meus caros, os sujeitos da noite só chegam em casa quando os primeiros raios de sol do dia seguinte já apontam no horizonte. Quem não tem ressaca, só fica mesmo com uma certa lassidão no corpo. Os que sofrem da tal ressaca, porém, penam pra caramba e juram nunca mais repetir o feito.

Se os sujeitos forem jogadores de futebol e participarem de uma farrinha dessas na véspera de uma partida, aí o bicho pega. Na hora do jogo, o cérebro comanda e o corpo não obedece. O carinha que fazia cem metros rasos em dez segundos, eleva esse recorde para dois ou três minutos.

Pregados em campo, veem os adversários passando por eles em velocidade de Fórmula Um. E então, sem muito esforço, os jogadores do outro time, que normalmente nem são assim tão velozes, vão construindo placares desmoralizantes, tão fácil como quem toma doce de criança.

Isso só não acontece quando no grupo dos farristas existe algum gênio que quanto mais bebe, mais joga. Na história do Brasil o grande representante desse tipo de jogador se chamava Garrincha. E no Acre, na mesma posição do Garrincha, existiu um sujeito chamado Bico-Bico.

Ao contrário dos comuns mortais, reza a lenda que o Garrincha e o Bico-Bico, quanto mais bebiam mais jogavam. A lenda relata, ainda, que havia dirigentes que facilitavam a vida boêmia desses dois, ou introduzindo umas biritas na concentração ou deixando eles darem as suas escapadas.

E sabem por que essa conversa me ocorreu? Pelo fato de que eu ouvi dizer que um dia desses um time acreano foi goleado num jogo fora do estado por causa do gosto pela noite de alguns dos seus jogadores. Se é verdade, eu não sei. O que eu sei é que o Garrincha e o Bico-Bico não estavam no grupo.

Francisco Dandão – cronista e tricolor

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