Alienação algorítmica
Por Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues, advogado e professor universitário
Uma versão artificial algorítmica da vida está entre nós, onde há uma clara dissociação da realidade, onde devemos discutir as consequências éticas, sociais e até legais quanto a tal fato.
Esta semana tivemos uma situação inusitada ocorrendo em Pernambuco, onde uma grande influenciadora digital foi presa por algumas acusações postas em segredo de justiça em uma grande operação policial.
Não tardou e alguns familiares se pronunciaram sobre o fato, e fãs se aglomeraram nas mediações do presídio, mesmo sem conhecerem o conteúdo das alegações, pois o processo que redundou na prisão se desenvolve em segredo de justiça como dito acima, exigindo a soltura imediata daquela e que tudo se passava de um abuso das autoridades legais.
O que se mostrou para esses seguidores foi que uma “Entidade algorítmica” teria sofrido restrições do mundo “real” e foi criado um conflito entre o que é real e o que só existe dentro do mundo algorítmico, que seria a figura mítica de uma grande influenciadora de comportamentos desejados, que estaria além do “bem” e do “mal”.
Falo de um mundo algorítmico, pois neste existem regras próprias e influenciadores podem ser usados para manipular percepções e comportamentos dos seguidores. Percebe se que no caso retratado acima, o crime investigado e que pretensamente teria ocorrido no “mundo real” tem menor importância.
O importante era estar ali presente para gerar engajamento próprio e para a influenciadora em questão.
A pressão para manter altos níveis de engajamento pode levar influenciadores a adotar estratégias que nem sempre são saudáveis ou autênticas. Muitos recorrem a polêmicas, brigas e conteúdos sensacionalistas para atrair mais visualizações e interações. Isso pode criar um ciclo vicioso onde a qualidade do conteúdo é sacrificada em prol de métricas de engajamento.
A busca desenfreada de engajamento termina esvaziando o conteúdo também de vidas que poderiam ser relevantes para o crescimento da sociedade, pois ao não retirar as vestes digitais, todo um mundo real de oportunidades pode ser perdido, além dos males psicológicos que isso pode causar.
A promoção de produtos ou serviços, que normalmente estão por trás do engajamento, muitas vezes sem transparência sobre os interesses financeiros por trás, pode levar a uma forma de alienação onde os seguidores são influenciados por conteúdos que não refletem a realidade.
A relação entre influenciadores digitais e a alienação algorítmica é um tema cada vez mais discutido. Influenciadores digitais dependem fortemente dos algoritmos das plataformas para alcançar visibilidade e engajamento. No entanto, essa dependência pode levar a uma série de desafios e problemas que vão além daqueles expostos acima.
Exaustão Algorítmica
Um dos principais problemas enfrentados pelos influenciadores é a exaustão algorítmica. Este termo descreve o esgotamento físico e mental causado pela necessidade constante de produzir conteúdo que “agrade” aos algoritmos das plataformas, independente de expressarem a realidade ou não. Influenciadores frequentemente relatam sentimentos de insatisfação, desânimo e medo de penalidades das plataformas.
Tirania do Algoritmo
Além disso, muitos influenciadores sentem que estão à mercê dos algoritmos, que determinam quais conteúdos serão promovidos ou suprimidos. Isso cria um ambiente de trabalho opaco e hierárquico, onde a visibilidade é uma moeda crucial. Para tentar “vencer o algoritmo”, influenciadores muitas vezes recorrem a estratégias como campanhas de engajamento, onde incentivam seguidores a interagir com suas postagens em troca de brindes.
Impacto na Saúde Mental
A pressão para manter um alto nível de engajamento e visibilidade pode ter um impacto significativo na saúde mental dos influenciadores. A constante necessidade de estar “online” e produzir conteúdo relevante pode levar a problemas como ansiedade, depressão e burnout.
O fato demonstra que o tema tem que sofrer um grande debate social para que se procure um uso saudável dos algoritmos que deveriam ser uma ferramenta para a construção de uma vida melhor e não objeto de degradação das vidas.