Francisco Dandão – Uns meses atrás, quando pipocavam incêndios no país afora, eu escrevi, lá pelas tantas, que era uma enorme ironia o campeonato brasileiro de futebol estar sendo liderado por um time chamado Botafogo. Além de irônico, eu dizia que se tratava de uma situação absoluta e totalmente inapropriada.
Independente, porém, do que eu pudesse pensar (e expressar), naquele momento (e depois), o certo é que o Botafogo (e os botafoguenses) não estavam nem aí para as supostas ironias e heterodoxias. O que contava (e continuou contando) era que o time em 2024 se mostrava de excelência.
E não bastando o triturar dos inimigos que cruzavam o seu caminho no Brasileirão, pra aumentar o brilho da solitária estrela o time ainda corria para conquistar a glória eterna da Libertadores. As águas rolaram sob as pontes e o Botafogo subiu duas vezes no pódio num exíguo espaço de tempo.
Nas retas finais tanto de uma quanto da outra competição, não houve quem não vaticinasse que o Fogão iria fracassar, que o time não passava de um cavalo paraguaio (aquele que lidera a corrida desde o início, mas depois é ultrapassado na reta final), que a liderança era fogo de palha etc. e tal.
Tudo isso porque no ano passado, quando o mesmo Botafogo parecia fadado a conquistar o título do Brasileirão, eis que se danou a perder nas últimas rodadas e entregou um título que parecia conquistado por antecipação. O fracasso recente trabalhava, então, contra o raio da esperança.
Mas aí, como a história não é uma farsa (embora alguns protagonistas sejam de fato grandes farsantes, do tipo que debocham da morte alheia, afirmam que a terra é plana e receitam placebo para as multidões), o Botafogo foi pra cima e provou que triste é o raio que cai no mesmo lugar.
A frase símbolo das conquistas botafoguenses, tirada de uma canção do falecido artista cearense Belchior, por seu lado, não poderia ser mais adequada à situação: “…no ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”. E o êxtase se materializou em forma de alegria e bem-aventurança.
Meu palpite, no caso de morrer num ano e não morrer no outro, é o de que o Botafogo foi consumido numa fogueira de incompetência e azar (um pouco disso e um tanto daquilo) em 2023 e ressurgiu das cinzas em 2024, qual uma fênix de esplendor, para o júbilo intenso dos seus admiradores.
Aliás, por falar em admiradores, a maior surpresa pra mim nessas duas conquistas do Botafogo foi o número de pessoas que eu vi nas ruas do Rio de Janeiro vestidas com a camisa do time. Eu que só conhecia uma meia dúzia de três ou quatro botafoguenses, de repente me deparei com milhares!
Francisco Dandão – cronista e tricolor – sabe tudo de futebol e um pouco mais…