O Brasil que pede demissão para dirigir ‘Aplicativo’

motorista de app

Por Gregório José – Nos últimos anos, o Brasil vem assistindo a uma silenciosa, mas profunda transformação no mundo do trabalho. Uma legião de brasileiros tem feito um movimento ousado — alguns diriam desesperado: pedir demissão de empregos formais para ingressar no universo incerto dos aplicativos de transporte. A decisão, que para muitos seria um salto no escuro, tem se tornado uma via de escape para milhares de trabalhadores asfixiados por salários baixos, jornadas exaustivas e a perda progressiva de direitos.

Não se trata de um fenômeno isolado. Dados do IBGE e de institutos privados revelam que, entre 2020 e 2024, o número de trabalhadores que deixaram o emprego com carteira assinada para atuar como motoristas de aplicativos cresceu quase 30%. A pandemia acelerou esse processo, mas o combustível dessa mudança já vinha sendo acumulado há tempos — e tem cheiro de frustração.

O fim do “emprego dos sonhos”

Durante décadas, o emprego formal foi símbolo de estabilidade. Carteira assinada, décimo terceiro, férias remuneradas — um pacote que dava ao trabalhador a sensação de estar minimamente protegido. Mas essa estrutura começou a ruir. Em conversas com motoristas de aplicativo em grandes cidades como São Paulo, Recife e Belo Horizonte, o discurso se repete: “pelo menos aqui eu sou meu próprio patrão”. Essa autonomia aparente é o que tem seduzido uma geração inteira, especialmente homens entre 25 e 45 anos. Mas, como bem sabemos, a liberdade vem com um custo — e alto.

É curioso notar que muitos desses profissionais que pediram demissão foram atraídos não por uma oportunidade de ascensão, mas por um grito de sobrevivência. O que deveria ser um “bico” virou ocupação principal. O carro, muitas vezes financiado a duras penas, é a única ferramenta de trabalho. Do lucro — quando há — tira-se o sustento da família, paga-se o combustível e renegocia-se a parcela do veículo. Resta pouco. E, às vezes, nada.

O Brasil da informalidade não é novidade. O que muda agora é a roupagem. A pergunta que fica é: até quando essa lógica será sustentável? O esgotamento emocional, físico e financeiro desses motoristas já é visível. Cresce o número de relatos de burnout, ansiedade e sensação de fracasso. A falta de políticas públicas que regulem essa nova forma de trabalho aprofunda o abismo entre os que podem escolher e os que apenas tentam sobreviver.
É tempo de ouvir quem dirige. Devemos ouvir de verdade. Porque, nas ruas, entre buzinas e corridas, há um país gritando por socorro.

Jornalista/Radialista/Filósofo
Pós Graduado em Gestão Escolar
Pós Graduado em Ciências Políticas
Pós Graduado em Mediação e Conciliação
MBA em Gestão Pública

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