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Francisco Dandão – Sábado pela manhã, esse que recém passou, resolvi descobrir os segredos da yoga. É que eu vi um anúncio na televisão, no dia anterior, dando conta de uma aula gratuita nas areias de Copacabana, na cidade para sempre maravilhosa, lugar onde eu amarrei o meu burro desde julho de 2022.
Eu sempre ouvi dizer que os praticantes de yoga são criaturas mais tranquilas, com mais força, mais equilíbrio e mais capazes de reagir ao estresse do dia a dia. E, como no Rio de Janeiro, apesar das belezas naturais, sempre se pode encontrar um perigo escondido na próxima esquina, então…
Acordar cedo foi o primeiro sacrifício a que eu me impus. Seis horas da manhã, brigando contra a vontade quase irresistível de me virar para o outro lado da cama, eu já estava de pé, escovando os dentes. E quinze minutos à frente eu já estava na praia, preparadíssimo para as instruções.
Um par de horas depois de algumas tentativas e outro tanto de desistências de limpar a mente e buscar um ponto de concentração dentro do coração, eu estava de volta pra casa com a sensação de que a vida se tornara mais leve, considerando até a hipótese de pegar um trem para Katmandu.
Respirar, meditar, unir o corpo, o espírito e a mente… As palavras da instrutora da aula ficaram se repetindo no meu pensamento. Tanto que, lá pelas tantas, eu já estava pensando até em comprar um turbante e deixar a barba crescer, no estilo dos mais performáticos gurus ou faquires indianos.
E daí, enquanto esperava a hora do almoço (no caso uma feijoada carioca regada a um barril de caipirinha), resolvi dar uma olhada na tabela da Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol. E assim vi que os times do Acre, Independência e Humaitá, se enfrentariam às 19:00 (hora de Brasília).
Feijoada, caipirinha, internet, televisão e futebol… Pensei bem e cheguei à conclusão de que melhor será adiar o momento de tomar o tal trem para Katmandu e a decisão de me tornar guru (ou faquir) indiano. Melhor mesmo penso que será ficar por aqui para ver que bicho vai dar mais tarde.
E ainda mais que se eu fosse agora para tão longe iria perder o desfecho do duelo ao pôr-do-sol entre o hambúrguer americano e o suco de laranja brasileiro. Perder a oportunidade de testemunhar as balas se chocando em pleno ar ou os dois pistoleiros tombando cada um para o seu próprio lado.
De cabeça para baixo parece estar o mundo. Culpa nossa que ficamos elegendo psicopatas de toda espécie, defensores do fim da Terra no horizonte, posto que a consideram plana, bem como a morte pela resistência à vacinação. Tão de cabeça para baixo que o Humaitá bateu o Independência!
Francisco Dandão – cronista e tricolor – Dandão sabe tudo de futebol e um pouco mais….