Por Francisco Dandão – Quarta-feira passada, no começo da noite, depois de outro dia de trabalho, resolvi chegar mais cedo em casa e chamei um carro por aplicativo, deixando de lado a condução coletiva de praxe. Escolhi a categoria mais barata, claro, que qualquer um, tanto faz esse como aquele, leva ao destino.
Por experiência própria eu sei que existem dois principais tipos de motoristas, no que diz respeito ao relacionamento com os passageiros: os que seguem o trajeto sem dizer uma palavra, atendo-se somente ao ato de dirigir o veículo, e os que gostam de deslizar pela avenida puxando uma prosa.
Eu gosto mais dos motoristas do tipo calado. Esses me permitem mexer no celular, checar minhas mensagens, ler alguma coisa no jornal do dia sobre o meu time do coração, ver a cotação da bolsa de valores depois do último arroto dos senhores das guerras ou apenas fazer o pensamento voar.
No caso do motorista da dita quarta-feira, ele era do tipo conversador. E aí, ao ver os meus cabelos brancos, perguntou a minha idade, pedindo desculpas pelo que ele considerava ser uma indiscrição. Ao saber que eu fiz recentemente 69 anos, me indagou se no passado as coisas eram melhores.
Respondi-lhe que ele não precisava se desculpar, que eu não tinha problema nenhum em dizer a minha idade porque a alternativa a não ficar velho era morrer jovem. E isso, quero crer, seria bem pior, principalmente porque impossibilitaria de a gente estar levando aquele papo meio aranha.
E na sequência, de maneira diversa dos saudosistas, pessoal que costuma romantizar o passado, afirmando que tudo antes era muito melhor, disse ao motorista que o tempo bom é o que a gente vive. E que apesar de estarmos aqui por aquilo que vivemos, tudo já passou, não existe mais.
Da mesma forma, disse-lhe que o futuro é feito de matéria totalmente imponderável. Fruto de uma profusão de variáveis, decisões, hesitações e o que mais o valha, daqui a pouco tudo poderá ser/estar diferente, melhor ou pior do que cada um de nós almejou ou rejeitou para si e para os outros.
E continuei discorrendo, que quando eu me pego a filosofar, ainda que baseado em coisa nenhuma, ou no pó das estrelas cadentes, não tenho mais vontade de parar. E nessas de continuar discorrendo, disse para o incauto e curioso motorista que a única coisa que conta é o “instante e nada mais”.
Pois então é isso. Acabou o espaço e eu não falei do que deveria, no caso o futebol nosso de cada dia. Fica, assim, para outra vez. Quanto ao motorista curioso, eu acho que ele vai passar bom tempo sem puxar conversa com outro passageiro. Principalmente se for um senhor de cabelos brancos.
Francisco Dandão – cronista e tricolor – Dandão sabe tudo de futebol e um pouco mais..
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