Se ele não for o morador mais ilustre de Sena Madureira, é, com certeza, o mais conhecido. Frei Paolino Baudassari, que há 57 anos faz do Acre sua morada, completou nesta segunda-feira, 2 de abril, 87 anos de vida. O governador Tião Viana fez questão de reservar um espaço na agenda e foi ao Vale do Iaco cumprimentar o líder católico.
Frei Paolino é mais que uma liderança religiosa. É uma espécie de embaixador de Sena Madureira. Alguns minutos de conversa com ele confirmam a frase acima: fala das necessidades do povo, das distorções que precisam ser corrigidas, das questões que exigem maior atenção do poder público, do problema do baixo preço da saca de farinha, da falta de acesso ao crédito pelos produtores familiares, das más condutas dos políticos. “Ele não pede nada para ele e não fala dele. Parece um adolescente defendendo os outros”, comentou o governador Tião Viana.
O frei, que não toma coca-cola e não deixa o refrigerante ser servido na casa paroquial (descobriu, após pesquisa na internet, que a bebida não faz bem para a saúde), recebeu o governador com um suco de cupuaçu. Ao receber o presente, o sorriso não disfarçava a alegria de uma criança. “Fiz questão de reunir produtos do Acre, só os que são fabricados aqui. Eu sabia que o senhor iria gostar”, disse Tião. Na cesta, além de bombons, farinha de mandioca, e biscoitos de castanha, óleos, sabonetes e xampus feitos a partir de matérias-primas da floresta.
Nascido em Bologna, Itália, frei Paolino nunca se animou para comemorar o aniversário. “Eu nasci e minha mãe foi embora. No mesmo dia eu fiquei sozinho com meu pai. Uma senhora me dava água com açúcar até que apareceu uma mulher que me deu o peito por sete meses. Depois o meu pai casou de novo e foi uma maravilha. Uma vez disseram que a mulher do meu pai era minha madrasta e eu fiquei injuriado. Dei até uns sopapos. Meu pai disse que era verdade, ela era minha madrasta. Mas eu achava isso muito negativo. Ela era minha mãe. Eu tive mãe, era ela”, revela.
As desobrigas – As desobrigas são as viagens a pé, a cavalo ou barco, para levar o evangelho a comunidades isoladas. Antigamente, quando a maioria da população de Sena Madureira morava na zona rural e as distâncias e dificuldades eram maiores, as desobrigas duravam até seis meses. Hoje elas ainda acontecem uma vez por ano, mas duram cerca de 60 dias. Frei Paolino chegou a percorrer 300 quilômetros nessas missões. A última, encerrada no dia 24 de fevereiro por conta das dores causadas por uma hérnia, não foi, na verdade, a última viagem nos planos do líder religioso. Perguntado se vai a mais alguma desobriga, mesmo com os demais padres dizendo o contrário, ele faz um sinal com a cabeça e esconde um sorriso que diz: não vou discutir agora, mas não pretendo ficar parado.