A religiosidade da ex-senadora Marina Silva se transformou numa barreira para a coleta de assinaturas em apoio à fundação de seu novo partido político, a Rede Sustentabilidade, disseram ontem militantes do grupo que trabalha pela criação da sigla. Marina é evangélica e alguns de seus apoiadores foram a eventos religiosos como a Marcha para Jesus colher assinaturas para a fundação da Rede. A lei exige o apoio de pelo menos 500 mil eleitores para a criação de uma nova sigla partidária.
Em reunião com “mobilizadores” da Rede, voluntários que trabalham na coleta de assinaturas, um dos principais colaboradores de Marina, Rafael Poço, disse ter detectado nas ruas uma “tentativa de associar conservadorismo à religião” e contou que isso tem prejudicado a Rede.
De acordo com o ativista, eleitores simpáticos ao projeto de Marina às vezes manifestam restrições a suas convicções religiosas, e também à participação de empresários na organização da Rede.
“Notícias foram claramente manipuladas para associar a religião a uma coisa negativa”, afirmou Poço, dirigindo-se aos outros militantes no encontro de ontem. “Senti isso nas ruas e vocês provavelmente sentiram também.”
Poço deu sugestões para lidar com questionamentos ligados a esse tema e lembrou que “o respeito ao Estado laico está no nosso estatuto”.
Outra colaboradora da Rede falou em seguida e disse ter encontrado boa receptividade ao buscar assinaturas em atos como a Parada Gay, a Marcha das Vadias e a Marcha da Maconha, que promovem causas às quais os evangélicos em geral se opõem.
Os militantes mostraram especial preocupação com tentativas de vincular Marina ao deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que é pastor evangélico e virou alvo de críticas de minorias após assumir o comando da comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em maio, numa palestra no Recife, Marina disse considerar “um erro” criticar Feliciano “por ser evangélico” e não “por suas posições políticas equivocadas”. Suas declarações foram interpretadas nas redes sociais como uma defesa do deputado, o que Marina classificou ontem como uma tentativa “criminosa” de vinculá-la a ele.
Marina disse que a Rede não quer “trabalhar a partir de rótulos” e rejeitou a “instrumentalização dessa ou daquela questão para fazer política por caminhos enviesados”. “Se há um desejo em fazer um debate sobre a necessidade de deixar claro que o Estado é o Estado laico, não há problema”, acrescentou.
Segundo Marina, “um dos segmentos da sociedade que mais contribuiu para que tivéssemos o Estado laico foi o movimento protestante”. “Minha convicção me diz que o melhor para todos, quem crê e quem não crê, é o Estado laico”, disse.