Fernando Brito, Tijolaço:
O Terror Branco
Não há remédio para a corrupção que não seja a democracia, que não o cura, mas o controla.
Achar que o fato de termos uma matilha de policiais e procuradores à caça de corrupção e uma mídia pronta a lançar na lama quem com ela se envolva é garantia da lisura da atividade pública é uma rematada tolice.
Ao contrário, cria outro tipo de deformação, insidiosa e pervertida, que faz todos os canalhas do dinheiro terem o controle das autoridades públicas, não apenas pelo compadrio azeitado a moedas como pela ameaça permanente da delação, que as arruína e a eles consagra, quase como santos da honradez.
É verdade que só um energúmeno tão acanalhado em seus hábitos como é Michel Temer poderia, nesta quadra, fazer uma reunião com um dos grandes corruptores da República e deixar que ele tratasse, com seu “de acordo” de mesadas a Eduardo Cunha, do tráfico de influência no Cade e da compra de juízes e promotores. Se burrice e desfaçatez estivessem no Código Penal, Temer já poderia ser condenado na “cognição sumária” tão em voga.
Mas a questão é muito maior que essa, porque não está em jogo o destino de uma pessoa, ou de um grupinho delas, mas de dezenas e dezenas de milhões que vivem num país que se afoga na crise.
Vivemos, atualizado para o século 21, algo muito semelhante ao Terror Branco pós-revolução na França. Depois do 9 de Temidor, quando os jacobinos foram depostos e Maximilien de Robespierre preparado para a guilhotina, grupos de jovens monarquistas, atiçados pela onda reacionária, espancavam republicanos pelas ruas, em nome de Deus. Nem precisa metaforizar, não é?
O pais está cansado, ansioso por uma volta à normalidade e se o caminho para ela não se abrir por eleições livres, sem vetos ou exclusões, virá, infelizmente, por alguma aventura autoritária que, de novo, esta nação não merece.