choque final #
[Acre com 34 casos de coronavírus confirmados ]
Leitura obrigatória
Os sinais de que Jair Bolsonaro não mais governa estão nítidos. É um fato que muda totalmente o jogo político.
Xadrez do novo período, em que Bolsonaro não mais governa
Por Luis Nassif, GGN
Haverá inevitavelmente o choque final, no qual os Bolsonaro tentarão envolver bases das Polícias Militares, os caminhoneiros ligados a ele (que não são maioria na classe) e mais grupos aliados, já esvaziados. Tem-se, agora, uma hiena desdentada. Quanto menos poder institucional, maior gritaria.
Peça 1 – o poder militar
No dia seguinte ao pronunciamento de Bolsonaro, conclamando o fim da quarentena, o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, falou para a tropa, recomendando a quarentena e enfatizando que respondia ao Ministro da Defesa e às autoridades da Saúde.
Ecos de Brasília, através de alguns jornalistas com fontes militares, mostraram a indignação dentro do Palácio, sustentando que não iriam participar de semelhante massacre.
Há muito chute no ar, de jornalistas que exercitam probabilidades como se fossem informações objetivas. De objetivo tem-se o descontentamento do Alto Comando com Bolsonaro.
Peça 2 – o grupo da saúde
A reação do Ministério da Saúde foi nítida. Antes de ontem, o grupo de técnicos que toca a guerra contra o coronavirus divulgou um manifesto reiterando a ordem para manter a quarentena.
Veja bem: o presidente da República decreta o fim da quarentena; e os técnicos da saúde reiteram a ordem de mantê-la. Não foi nem a título de recomendação. Foi ordem mesmo. Foi o sinal mais nítido do fim do comando de Bolsonaro sobre o governo.
Ontem (anteontem – oestadoacre), o Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta fez longa apresentação pela Internet, onde reiterou todas as recomendações iniciais, de manter a quarentena para permitir o movimento das pessoas trabalhando em atividades essenciais.
Desqualificou as declarações sobre gripezinhas e mortes de poucos mil, mostrando o efeito sobre a rede do SUS e as consequências posteriores. Condenou as carreatas visando acabar com a quarentena.
Em suma, desdisse ponto por ponto as tolices do presidente da República. No final, em um jogo claro de “engana-o-bobo”, fez um ataque desnecessário à imprensa, mas necessário para manter o louco sob controle.
Há informações fidedignas de que qualquer movimento de Bolsonaro, visando inibir os trabalhos de prevenção, será respondido com renúncia coletiva de toda a turma da saúde.
Peça 3 – o grupo da economia
A economia nunca foi a praia de Bolsonaro e, agora, menos ainda. É curioso que Paulo Guedes, sem dimensão pública, sem noção das estratégias necessárias de combate à depressão, tem compensado a falta de ousadia com discursos de solidariedade e de apoio aos mais fracos. É um mero recurso retórico, para compensar a falta de medidas mais substantivas. Mas é curioso que seja utilizado pelo tecnocrata, enquanto o presidente se limita a gracejos, tipo o brasileiro entra em esgoto e não fica doente.
Aliás, Guedes é o mais assustado com o coronavirus, a ponto de se ausentar de todos os eventos do governo.
No meio empresarial, acabou definitivamente qualquer veleidade em relação a Bolsonaro. Sabe-se que, ficando ou saindo, não terá mais a menor influência sobre reformas, nenhuma interlocução com o Congresso, nenhum respeito do Supremo, nenhuma ascendência sobre a área econômica.
Peça 4 – a direita virtual
A aposta na minimização do coronavirus minou amplamente sua ascendência sobre grupos de direita. É um fenômeno similar ao que está ocorrendo nos Estados Unidos.
No âmbito da grande mídia, cessou a época dos influenciadores negacionistas. Esta semana, foi demitida uma das principais âncoras da Fox News – a empresa que descobriu o público de direita e explorou até o limite os fake News políticos -, devido ao fato de ter minimizado a epidemia e atribuído as estatísticas a uma conspiração para derrubar Donald Trump. Esse mesmo processo vai se dar na mídia tradicional brasileira.
Peça 3 – o grupo da economia
A economia nunca foi a praia de Bolsonaro e, agora, menos ainda. É curioso que Paulo Guedes, sem dimensão pública, sem noção das estratégias necessárias de combate à depressão, tem compensado a falta de ousadia com discursos de solidariedade e de apoio aos mais fracos. É um mero recurso retórico, para compensar a falta de medidas mais substantivas. Mas é curioso que seja utilizado pelo tecnocrata, enquanto o presidente se limita a gracejos, tipo o brasileiro entra em esgoto e não fica doente.
Aliás, Guedes é o mais assustado com o coronavirus, a ponto de se ausentar de todos os eventos do governo.
No meio empresarial, acabou definitivamente qualquer veleidade em relação a Bolsonaro. Sabe-se que, ficando ou saindo, não terá mais a menor influência sobre reformas, nenhuma interlocução com o Congresso, nenhum respeito do Supremo, nenhuma ascendência sobre a área econômica.
Peça 4 – a direita virtual
A aposta na minimização do coronavirus minou amplamente sua ascendência sobre grupos de direita. É um fenômeno similar ao que está ocorrendo nos Estados Unidos.
No âmbito da grande mídia, cessou a época dos influenciadores negacionistas. Esta semana, foi demitida uma das principais âncoras da Fox News – a empresa que descobriu o público de direita e explorou até o limite os fake News políticos -, devido ao fato de ter minimizado a epidemia e atribuído as estatísticas a uma conspiração para derrubar Donald Trump. Esse mesmo processo vai se dar na mídia tradicional brasileira.
Pesquisas feitas logo após os últimos pronunciamentos de Bolsonaro mostraram uma ampla queda entre eleitores de direita. Hoje em dia, o bolsonarismo está restrito a um grupo minoritário de terraplanistas, sem massa crítica para grandes manifestações. Tanto que as carreatas deste final de semana se tornaram um rotundo fracasso.
Peça 5 – o Judiciário
Até agora, majoritariamente o Judiciário e o Ministério Púbico se alinhavam com o bolsonarismo. Aparentemente, o noivado foi rompido. Houve sentenças em vários estados proibindo as carreatas. E uma sentença da Justiça Federal em Brasília proibindo a veiculação da campanha da Secom estimulando a quebra da quarentena.
Comprovando o enfraquecimento final de Bolsonaro, a Secom voltou atrás a ponto de negar que tivesse planejado a campanha.
Peça 6 – a queda de braço com os governadores
Outra derrota foi para os governadores, em sua tentativa de quebrar o isolamento para enfrentar o coronavirus. A maioria dos governos relevantes manteve sua posição de não quebrar o isolamento. E as capitais mostraram que a maioria da população acatou a ordem de não se juntar em grandes aglomerados.
Completou o ciclo a fala de Mandetta, fortalecendo a posição dos governadores, recomendando que não alterem sua estratégia.
A frente dos governadores, de enfrentamento do coronavirus, não é unânime apenas devido a alguns personagens extremamente medíocres, como Romeu Zema, governador de Minas.
Peça 7 – o papel de Rodrigo Maia
Nesse vácuo de poder, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se fortalece definitivamente como o grande interlocutor do mundo político, das empresas e dos partidos políticos em geral.
Peça 8 – próximos passos
Stricto sensu, Jair Bolsonaro tem os seguintes instrumentos de exercício do poder de Presidente:
- O acesso a rede nacional para pronunciamentos.
- A rede de fake News do gabinete do ódio.
- Os resmungos do general Alberto Heleno, provavelmente o mais inepto militar que já passou pela área pública.
Haverá mais dois movimentos previsíveis.
Do lado dos Bolsonaro, o inconformismo resultando em novos crimes virtuais. Do lado dos órgãos de investigação, a aceleração dos inquéritos sobre seus filhos.
Fosse um grupo minimamente racional, os Bolsonaros recolheriam as armas e tentariam se recompor para um novo confronto mais adiante. Mas são toscos demais. Acuados, tenderão a dobrar a aposta.
Haverá inevitavelmente o choque final, no qual os Bolsonaro tentarão envolver bases das Polícias Militares, os caminhoneiros ligados a ele (que não são maioria na classe) e mais grupos aliados, já esvaziados. Tem-se, agora, uma hiena desdentada.
Quanto menos poder institucional, maior gritaria.
O que irá acontecer daqui para diante tem uma certeza e uma incógnita. A certeza é do fim de seu poder como presidente. A incógnita é a maneira como será tirado do poder.
Saindo, é questão de tempo para que ele e a família sejam julgados por tribunais nacionais e cortes internacionais e se faça Justiça com algumas décadas de atraso: ele deveria ter sido preso no momento em que foi expulso do Exército.
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