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Francisco Dandão
Um dia desses, ao entrevistar o advogado Edson Carneiro, atacante dos times acreanos Grêmio Atlético Sampaio (GAS), Rio Branco e Juventus, nas décadas de 1960 e 1970, ele lembrou de um golaço marcado pelo próprio com a camisa deste último clube, contra o então famoso Mixto de Cuiabá.
Aí, trocando uma ideia sobre o depoimento do ex-atacante com o meu editor Manoel Façanha, este tratou de mergulhar no seu riquíssimo acervo hemerográfico para saber mais sobre o fato. Como resultado do mergulho, o Façanha emergiu com os detalhes da campanha do Mixto em terras acreanas.
Corria o ano de 1972 e o Mixto viajou ao Acre com a missão de enfrentar os quatro grandes clubes locais: Atlético Acreano, Juventus, Rio Branco e Independência, nessa ordem. Jogos amistosos, levando em conta que o futebol do Mato Grosso já era profissional, e o acreano ainda amador.
Foram quatro jogos de lotação esgotada no estádio José de Melo. Uma excursão como aquela era oportunidade rara para os torcedores acreanos verem uma equipe de fora do estado. Em 1972, registre-se, sequer havia emissoras de televisão no espaço territorial do Acre. Então, todos aos jogos!
Havia no ar uma expectativa de que os times anfitriões poderiam fazer boas partidas contra o Mixto. Mas, ao mesmo tempo, havia uma certa desconfiança de que os visitantes levariam vantagem. Afinal de contas, era o confronto de jogadores profissionais contra amadores de um lugar distante.
Dentro de campo, porém, a expectativa negativa não se confirmou. E já no jogo de estreia, vitória do Atlético por 1 a 0, com gol do arisco e veloz atacante Rui Macaco. Segundo os recortes dos jornais da época, Rui Macaco driblou os dois zagueiros do Mixto antes de mandar a bola para as redes.
Poderia ter sido um descuido momentâneo do Mixto a primeira derrota em solo acreano. Mas, então, no segundo compromisso, sobreveio nova derrota dos cuiabanos. Juventus 2 a 1, de virada. Dizem que o árbitro Ribamar marcou um pênalti “Mandrake” para o Juventus, mas vá lá que seja.
Nos dois últimos jogos, o Mixto deu uma melhorada, empatando com o Rio Branco em 1 a 1 e vencendo, na despedida, o Independência por 2 a 0. O Tricolor de Aço tinha um timaço no ano de 1972, mas, ao que tudo indica, entrou em campo relaxado, pelas deficientes atuações anteriores do Mixto.
O detalhe que não consta no acervo que o Façanha me mostrou é que o Mixto foi alvo de tantas críticas na imprensa local que um dos seus atletas, antes de entrar no avião que os levaria de volta a Cuiabá, limpou os sapatos com um exemplar do jornal O Rio Branco. Time ruim e muito mal educado!
Francisco Dandão (professor, escritor e jornalista)