#cronica
Francisco Dandão, crônica
Abril é um mês cheio de datas comemorativas no Brasil. A começar pelo primeiro dia do período, quando se comemora a mentira. Eu acho muito estranho um dia dedicado à mentira. Mente-se tanto, todo dia, principalmente nos altos escalões da República, que o correto era ter um “dia da verdade”.
Se existisse um “dia da verdade”, a ideia é a de que ninguém poderia mentir durante 24 horas, sob pena de ir pra cadeia. Penso nisso e fico imaginando as quantas amizades que seriam desfeitas e o tanto de políticos que seriam desmascarados. O Brasil iria virar de cabeça para baixo. Kkk.
A mentira no Brasil, aliás, atingiu ares de instituição. E não poderia ser diferente. Está no DNA da nação, desde que se passou para a história a conversa de que os portugueses de Pedro Álvares Cabral foram os primeiros “civilizados” que chegaram às praias da Bahia, no dia 22 de abril de 1500.
Muita gente, tanto da Europa quanto da Ásia, já havia passado pela terra brasilis antes do senhor Cabral e sua troupe de fedidos grumetes e marinheiros. A questão é que ninguém viu vantagem em tomar posse de uma terra onde todo mundo andava nu e gostava de comer carne de semelhantes.
Os espanhóis, tão adeptos das navegações quanto os portugueses, estiveram antes por estas plagas. Não viram ouro brotando do solo e, como dizia a gíria antiga, “caparam o gato”. Já os chineses, que também andaram por aqui, entenderam que não tinha nada de bom para gastar a sua pólvora.
Só mesmo os portugueses, que não mediam esforços para expandir seus horizontes e que sempre se empenharam nas suas campanhas de globalização da gripe, da varíola e da tuberculose, além de adorarem a visão de umas indiazinhas adolescentes peladonas, é que não enjeitaram a parada.
Mas aí, já desde o documento primeiro, escrito ao rei Dom Manuel por um certo Pero Vaz de Caminha, o que se viu foi um amontoado de encobrimentos e mentiras. Os portugas chegaram, trataram de monopolizar os serviços postais com a fundação dos Correios, e se danaram a mentir.
Caminha (diminutivo de “cama”, daí a alusão ao “berço esplêndido” que consta no hino) foi tão parcial nas suas informações para Dom Manuel que sequer fez alusão a um jogo de bola praticado nas tardes das praias de Porto Seguro. As índias jogavam nuas e daí foi que surgiu o nome “pelada”.
É isso. A pelada surgiu nas praias do Brasil. Com a evolução dos costumes, a bola ficou meio esquecida no espaço das areias, as mulheres trataram de acrescentar um fio dental à sua nudez e os portugueses viraram proprietários de padarias. Enquanto isso, todo mundo mente cada vez mais!