A FSP perguntou ao professor Mangabeira Unger, que foi ministro dos governos do PT e assessor de Ciro candidato a presidente na última campanha.
No começo da entrevista, o sr. disse que o governo dá demonstrações de viver no passado. Por quê?
Primeiro, imagina que a economia possa crescer só pelo lado da demanda, do consumo. A promoção da economia dessa forma só pode ser feita com gastança ou com crédito. Por outro lado, a promoção da economia pelo lado da oferta exige inovação institucional, uma tarefa muito mais exigente.
Nosso problema maior não está no lado da demanda, mas no da oferta; não no lado do consumo, mas no da produção. Daí a ênfase anterior no impulso produtivista como uma das características necessárias para se contrapor ao rentismo financeiro.
Aí vem o debate sobre o financismo fiscalista, que também pauta o governo. Essa discussão está mal posta no Brasil. A tese pseudo-ortodoxa é que nós precisamos de responsabilidade fiscal para ganhar a confiança financeira, que traria o investimento, que, por sua vez, traria o crescimento.
Na verdade, nós precisamos, sim, de responsabilidade fiscal para que o Brasil não tenha que se ajoelhar diante dos interesses financeiros. E que possa ousar na construção de um projeto rebelde de desenvolvimento, como esse que eu acabo de esboçar. Então precisamos desse escudo fiscal, de muitas reservas, para ter margem de manobra.
Precisamos de responsabilidade fiscal não pela razão que se imagina, mas pela razão oposta. A afirmação da soberania nacional da rebeldia é mais importante do que o manejo contracíclico da economia. Na história, a rebeldia nem sempre é premiada, mas a obediência, invariavelmente, é castigada.
Estou longe de adotar a China como modelo, mas, entre os países contemporâneos, é o único que violou todos os preconceitos financistas. A obediência diante do altar das finanças só é necessária e conveniente no início do processo. A médio prazo, a única coisa que conta é a realidade.
Apesar de ter violado todos esses preceitos, a China é o lugar com mais dinamismo, mais oportunidades de lucro e é, de longe, o que recebe mais investimentos diretos no mundo hoje. É o exemplo que deveríamos seguir.
(…)
Ainda tem a 3ª aspas do professor Mangabeira Unger….breve, aqui..será sobre a Amazônia.
J R Braña B.