A fantástica fábrica de desqualificar o BNDES, por Luís Nassif
GGN – A manchete principal do jornal fala em “inchaço” do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Crescimento e Social). Poderia falar em crescimento, fortalecimento, mas fala em “inchaço”. A matéria diz que o banco não ajudou no aumento da produtividade da economia e vai colecionando argumentos produzidos pela fantástica fábrica de sofista, valendo-se da capacidade que têm alguns economistas de extrair lama de pedra. E ainda acusa o banco de tirar espaço do setor privado.
Como assim? A maioria dos clientes do banco é do setor privado, são empresas industriais e comerciais com acesso a crédito para crescer, gerar empregos, montar redes de fornecedores e pagar impostos. Como é que o “inchaço” do BNDES significa tirar negócios do tal “setor privado”?
O setor privado a que a reportagem se refere é exclusivamente o setor financeiro.
A lógica é simples:
- Um empresário industrial consegue recursos para sua empresa.
- A empresa tem uma curva de crescimento e de valorização. Quanto mais barato o recurso, maior a curva de valorização da empresa.
- Em algum momento, com mais musculatura, ele poderá abrir capital e ir até o mercado vender participação. Quanto mais forte for o seu caixa, maior será seu valor de mercado. Quanto mais necessitada de capital, menor o valor.
- O comprador é o mercado. Por isso, interessa-lhe empresas com boas perspectivas e baixa capitalização. Quanto mais a empresa precisar de capital, mais barato será seu preço.
Essa é a lógica da reportagem, de sobrepor os interesses do mercado aos interesses das empresas do setor real da economia, uma caça do lobo aos cordeiros, usando a mesma lógica das fábulas de Esopo.
Quando a indústria naval começava a ganhar musculatura, almocei com um desses malabaristas da lógica. E ele me dizia que o setor não aumentou em nada o número de funileiros da economia. Ou seja, ele comparava o funileiro de oficina de automóveis com funileiro da indústria naval, como se o salto tecnológico na formação do funileiro não fizesse a menor diferença.
Os recursos anunciados para o Programa de Neoindustrialização serão de R$ 100 bilhões em 5 anos. Para o Plano Safra, de R$ 442 bilhões em um ano. As taxas para a indústria ainda não foram definidas, mas não ficarão abaixo da Selic. Para trabalhos irrigados, as taxas de juros do Proagro e do Proagro Mais são de 2%. Para soja em sequeiro, a taxa é de 5% do Proagro e 3,8% do Proagro Mais. As culturas zoneadas demais (em sequeiro) possuem 4% de taxa no Proagro, e 3% no Proagro mais.
Sem BNDES, abre-se o mercado para debêntures de infraestrutura, por exemplo – e aí beneficia-se diretamente o “setor privado” financeiro.
O rendimento das debêntures de infraestrutura é definido pelo emissor da debênture, mas geralmente é composto de uma taxa de juros fixa e de uma parcela variável, que pode ser atrelada a um índice de referência, como a taxa Selic ou o IPCA. Em geral, as debêntures de infraestrutura oferecem rendimentos mais elevados do que os de outros títulos de renda fixa, como os títulos públicos.
Ou seja, o setor privado da economia real pagará mais para financiamento de obras de infraestrutura para permitir ao setor privado financeiro ganhar mais. Ou seja, a mídia trata o setor real como se fosse um mero instrumento de ganhos do setor financeiro. E o desenvolvimento brasileiro, a geração de empregos, a melhoria da economia depende do setor real.
Lula ainda não se deu conta que sua grande batalha, a bandeira capaz de unificar a Nação é o discurso em favor do setor real da economia, das pequenas, médias e grandes empresas, do cooperativismo, da agricultura familiar. É hora das federações industriais sairem da defensiva, abrindo espaço para uma brilhante geração da economistas desenvolvimentistas, que são mantidos calados pela mídia.
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