Geoglifos: prof. e paleontólogo Jonas Filho (‘restará a vergonha de ser acreano’)

geoglifos

oestadoacre reproduz uma publicação no FB do professor Jonas Filho, paleontólogo e ex-Reitor da Ufac, que levanta questionamentos sobre o material apresentado em um curso destinado a professores do Ensino Médio no Acre pela SEE. O professor Jonas critica a ausência, ou pelo menos a falta de menção, de cientistas locais como Alceu Ranzi, especialista em geoglifos, na elaboração do conteúdo.

Abaixo o texto:

GEOGLIFOS

Se no caso dos Geoglifos do Acre o santo de casa não fizer milagres, a mim, na condição de cientista/pesquisador, só restará a vergonha de ser acreano.

Muitas vezes descritos ou relatados como movimento de terra, os geoglifos, no Acre, são mencionados desde o séc. XIX. Mas foi a partir das observações, fotografias, estudos, entrevistas e publicações do prof. Dr. Alceu Ranzi, paleontólogo da Universidade Federal do Acre – UFAC (prata da casa) e colaboradores, a partir do ano de 1986, que o assunto geoglifos “explodiu”, no Acre e despertou interesse do mundo científico arqueológico e de outras áreas relacionadas.

Foi ele quem, pela primeira vez, viu do alto, de avião, e fez fotografar um geolglifo no Acre (foto anexa).
Mas vejam: Durante uma atividade de qualificação dos Professores do Ensino Médio, promovido pela Secretaria de Educação do Estado do Acre, uns dias atrás, o tema “Geoglifos do Acre”, dentre outros, foi abordado, como um dos importantes temas a serem discutidos nas escolas acreanas.

Um material de formação/folheto elaborado pelo Instituto IUMGO (tive acesso – mat. público), orientou a discussão, sobre o assunto.

Tudo estaria no lugar, eu aplaudiria e não estaria profundamente indignado, não fosse flagrante, no material didático mencionado, o desconhecimento sobre o estado da arte do estudo dos Geoglifos do Acre. Para além, também flagrante ausência de menção e de citações bibliográficas do cientista tupiniquin, Dr. Alceu Ranzi.

A propósito, na bibliografia apresentada como material de apoio para gestores escolares e professores de escolas de Ensino Médio, consta simplesmente três citações, retiradas do Google: um podcast de uma citada rádio, um documentário da National Geographic e outra de um Instragram (de onde me pareceu ter sido elaborado todo o trabalho norteador). Nenhuma citação de livro ou artigo foi apresentada. Dr. Alceu Ranzi e colaboradores possuem várias e que não foram, nem sequer, nos parece, consultadas.

Agravando a questão (algo que me toca, incomoda), está o fato de que a aula sobre o assunto “Geoglifos do Acre” não tenha sido proferida pelo ilustre cientista Dr. Alceu Ranzi, mas sim por profissionais de outros Estados.

Claro que o assunto é da ciência e cabe a qualquer um estudioso declamá-lo, mas preterir o nome do prof. Dr. Alceu Ranzi (prata da casa) em detrimento de outros nomes (eu disse de outros), naquele evento, para mim, foi um erro crasso de quem, aparentemente não zela pelo patrimônio cultural e científico de sua terra.

A presença do Dr. Alceu Ranzi, lenda nativa, nesse debate quase genuinamente acreano, deveria ter sido – não obstante a contratação de um Instituto gerenciador – uma EXIGÊNCIA, da Secretaria Estadual de Educação/AC. Penso cá com meus botões.

Até quando os santos de casa terão que obrar milagres em outros lugares? – Até quando ciência e tecnologias produzidas no Acre serão consideradas de periferia pelas autoridades acreanas?

Dia 05 de setembro vamos comemorar o dia da Amazônia. Vamos convidar um palestrante da USP ou de Harvard para palestrar sobre a Amazônia?

Jonas Filho, professor da Ufac, paleontólogo (ex-Reitor da Ufac)

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