Por Ana Paula Batalha(GdA) – Sentada próximo ao barranco do Rio Iaco, Maura Flores Manchineri, 39 anos, foi uma das centenas de indígenas que se deslocaram até à aldeia Jatobá em busca de atendimento pelo Projeto Cidadão do Tribunal de Justiça do Acre. Mãe de nove filhos, e moradora da aldeia Extrema, ela e a família viajaram doze horas de barco para poder aproveitar os serviços que estavam sendo oferecidos nesta terça-feira, 22, por diversas instituições.
Com a filha mais nova nos braços (de um ano e meio de idade), e com a inseparável garrafa de caiçuma, bebida tradicional da cultura indígena, Maura relatou o quanto foi difícil o trajeto devido à seca do Rio Iaco.
“Para mim, essa é a pior seca. Nunca tinha visto o rio tão seco assim. Viemos mais empurrando, mas os meninos estão lá dentro {na unidade de saúde} buscando as certidões”, comentou.
O relato de Maura é similar aos demais. Demétrio Manchineri, 65 anos, foi o primeiro a chegar para os segundo dia de atendimento. As 3h da madrugada, ele já estava na porta do alojamento das equipes para garantir os serviços de segunda via do RG dele e a identidade das quatro filhas. Morador da aldeia Lago Novo, ele disse ter enfrentado um dia de viagem descendo o Rio Iaco para poder chegar.
A ação social do TJAC preserva a cultura e tradições desses povos fortalecendo a autonomia e a dignidade das comunidades, proporcionando acesso a educação, saúde e serviços básicos. Além disso, o Projeto Cidadão colabora para o combate a desigualdade e a exclusão social, promovendo a valorização da identidade indígena construindo um futuro mais justo e inclusivo.
“Ficamos muito felizes em conseguir esses serviços. As meninas precisavam tirar a identidade, e a minha eu precisava da segunda via. Esses atendimentos facilitam bastante. Fui muito bem atendido. Falaram ontem que estava tendo essa ação, então, nós só viemos, pois passamos um dia para chegar”, comentou Demétrio.
Em parceria com o Ministério Público do Estado do Acre, com a Defensoria Pública do Estado do Acre, com a Polícia Civil, a Prefeitura de Assis Brasil e a FUNAI, o TJAC realizou dois dias de atendimentos na aldeia com a prestação de diversos serviços públicos, como a expedição gratuita de documentos básicos (certidão de nascimento, certidão de casamento, carteira de identidade, CPF, carteira de trabalho, título de eleitor), atendimentos jurídicos, de saúde e previdenciários, além do requerimento de auxílios. Esta edição contou com o apoio financeiro do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio do Convênio Plataforma +Brasil n.º 904427/2020, cujo objetivo é promover ações de cidadania e inclusão.
O casal Samara Mancheneri, 26 anos, e Maricelio Mancheneri, 33 anos, moradores da aldeia Extrema, compareceu ao mutirão de atendimento para explicar que a certidões de nascimento das filhas estão iguais e também fazer o cadastro do bolsa-família.
A aldeia Jatobá fica localizada em Sena Madureira, porém, os moradores recebem atendimentos pela Comarca de Assis Brasil, por ser a mais próxima. A Aldeia Jabotá, saindo do porto da Reserva Extrativista Chico Mendes, é a sexta aldeia. Antes dela, estão as aldeias Betel, Betel Salão, Cujubim, Peri, situadas à margem direita do Rio Iaco, e a aldeia Boca do Mamoadate, localizada na margem oposta.
O cacique Genesio Monteza Augusto Machinerie, agradeceu a equipe do Projeto Cidadão pela brilhante ação em prol dos povos originários. “Ficamos muito felizes em receber esse grupo em nossa aldeia para essa prestação de serviço”, ressaltou.
Foram mais de 320 certidões com etnias acrescentadas durante a ação na aldeia e cerca de 200 atendimentos.
A secretária de Programas Sociais do TJAC, Regiane Verçosa, enfatiza que esse esforço conjunto não apenas alivia as necessidades imediatas da comunidade indígena, mas também contribui para a preservação da cultura e do modo de vida deles.
Ela destacou o apoio da presidente do TJAC, desembargadora Regina Ferrari, e do corregedor-geral da Justiça, desembargador Samoel Evangelista, para a realização da atividade e ainda do Cartório de Assis Brasil.