Via Escrivã de nuvens – Um colega, o professor Raimundo, dizia sempre que o mesário é o guardião anônimo da festa democrática.
Entre uma fala e outra, lembrava sempre do Zé da Guia, o mesário veterano da seção 148…
Ele transformava a fila de eleitores numa espécie de espetáculo da cidadania, Zé cumpria a missão… Já estava em sua 4ª eleição…
Lá pela metade da tarde, Zé foi surpreendido por um pedido.
Uma senhora de óculos fundo de garrafa pediu permissão para votar com a bênção do “santo mesário” – ninguém mais, ninguém menos que o próprio Zé.
Ele, respeitoso, entoou um “amém” e garantiu que a urna estava abençoada e pronta…
Ela saiu satisfeita: “Hoje votei com as graças do Santo Mesário!” Ninguém teve coragem de corrigi-la.
Logo no primeiro ano de mesário, apareceu seu Arlindo, entrou na seção segurando uma lista de supermercado.
E o Zé: “Lá dentro é só voto, seu Arlindo, a lista de mercado fica aqui com a gente.”
Seu Arlindo seguiu, depositando o voto e já pedindo, na saída, o “tíquete do arroz”…
Zé notava cada situação.
Gente com a pressa de quem pegou o ônibus errado, que confundia a seção, errava o candidato.
Zé da Guia foi uma espécie de terapeuta eleitoral, uma celebridade discreta.
A democracia é isso aí, voto, sorriso e encontros…
E o mesário é o guardião.
Observação ao Leitor:
A história que você acaba de ler é uma celebração da jornada de tantos mesários que, eleição após eleição, dedicam-se ao ideal democrático.
Este relato é atemporal e a-espacial, marcado pelas surpresas e pelos encontros.