Flaviano foi mestre da paciência política

O Acre está mais pobre politicamente sem Flaviano Melo, que morreu nesta quarta-feira, aos 75 anos, em São Paulo

flaviano capa

Foi Deyse quem me avisou:

— Flaviano…..!

Fui direto rumo ao laptop e fiz o primeiro post de anúncio da sua morte em São Paulo em oestadoacre e pensei:

— Não pode ser só isso.

Flaviano Melo foi o apogeu do MDB no Acre.

Vou direto ao ponto.

Há alguns anos, no meio de uma campanha política, estava na loja da Vivo, Flaviano entrou e quando me viu, aproximou-se, e sentou-se ao meu lado naquelas cadeiras de atendimento da telefônica ali na Capoeira.

— E o site?

— Vai indo remando contra a maré…

Aproveitei:

— Vamos fazer uma entrevista?

— Vamos. (e com aquele ar de Flaviano disse:). Vai ter polêmica?

— Não sei… vamos ver.

E várias pessoas, clientes da Vivo, ao lado da gente resolvendo problemas nos seus celulares.

Avancei:

— Quero falar com você sobre tudo. Desde o começo, prefeito(Sibipiruna nas ruas), governador especialmente, senador e deputado.

— Tudo?

Ri… e ele também….(nós dois sabíamos que o assunto Abrantes seria tocado inevitavelmente).

Flaviano, mesmo sempre morando no Rio de Janeiro – foi um personagem político dos mais importantes do Acre no final do século XX e começo deste século.

Com a isenção que sempre tive em relação a ele, pra mim, Flaviano foi o político com o maior espírito democrático – que o Acre já conviveu.

Nunca usou contra a gente, mesmo com as mais duras denúncias que fizemos durante o seu governo, a máquina e as teias da justiça para nos punir pelo bolso….publicamente nunca se abalou com as denúncias e problemas do seu governo.

Foi um mestre da paciência política.

Seu governo no Acre foi bom?

Digo que não e sim.

Flaviano foi o criador dos principais bairros, conjuntos habitacionais de Rio Branco, que prevalecem ainda hoje….E, se esse centro da capital ainda tem alguma árvore em pé, agradeçam a ele quando foi prefeito…

Criou a Fundação Hospitalar, que, coincidência da vida – o acolheu há poucos dias nos primeiros socorros para aplacar sua última crise de saúde.

Por outro lado, seu governo protagonizou o escândalo da ‘Flávio Nogueira'(conta fantasma criada no BB) e teve que se justificar politicamente, muito em nível nacional, especialmente, após o brutal assassinato de Chico Mendes em Xapuri em 1988 pelo filho de um fazendeiro, dado à repercussão internacional.

A prisão arbitrária de Sérgio Taboada, do Sindicato dos Bancários, num final de manhã de setembro, também durante seu governo, em frente ao Banacre em greve total, nunca ficamos sabendo se partiu a ordem expressa de Flaviano ou foi iniciativa do próprio meganha comandante que estava naquele dia escalado para acompanhar o movimento…O mesmo pode-se de dizer da violência policial do ‘Dia D’, em frente ao Palácio, contra a greve dos professores da Aspac.

Na hora da despedida na loja da Vivo:

— Vai ter entrevista?…. Da outra vez você se esquivou.

— Sim. Voltamos a falar…Eu quero falar contigo, Braña.

Foi a última vez que nos falamos.

Flaviano vira lenda no Acre.

E isso é para poucos.

J R Braña B.

Sair da versão mobile