O diário de uma mulher ‘burguesa’

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20 de novembro de 2024

Primeira hora

Uma inquietação tomou conta de mim. Pensei no Acre, neste povo que, mesmo sob o peso esmagador, mantém acesa uma chama, uma espécie de cuidado próprio. É curioso pensar que o primeiro passo da resistência não é a batalha, mas o despertar. Abrir os olhos diante do que nos vendem como realidade: a mentira, a opressão, o conformismo. Há algo sagrado nisso, um gesto íntimo de resistência que começa pelo cuidado de si. Como se cada ato de amor-próprio fosse também um grito de liberdade.

Lembro-me das matas e rios que ouvi descrever em algum lugar — talvez um livro, talvez uma conversa distante. Imagino o trabalho que consome corpos, mas não almas. É estranho e belo: mesmo diante da exploração, há quem se recuse a carregar rancor. Cuidar de si, penso, é um modo de afirmar: “Sou livre, mesmo que tentem me aprisionar.” Cuidar de si como quem planta o futuro, um futuro onde justiça e amor sejam mais do que palavras bonitas.

Fecho o diário por ora.

Por Clara Lins.

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