Francisco Dandão – Já faz algum tempo que eu tenho me debruçado de forma mais intensa sobre as notícias do futebol das antigas, seja das escaramuças regionais, seja dos embates nacionais. Por conta disso, de vez em quando eu encontro coisas dignas de nota que eu não estava, necessariamente, procurando por elas.
Foi o caso do meio dessa semana que passou, quando eu encontrei uma reportagem falando de um jogo a ser disputado entre Atlético Clube Juventus e Atlético Acreano, válido pelo saudoso Copão da Amazônia de 1981. Parece que foi ontem, ainda agorinha, mas já se vão desde então 43 longos anos.
No tópico relativo à equipe do Galo, pelo menos duas curiosidades: a de que o time estava com os salários em dia, inclusive com o pagamento dos jogadores tendo sido antecipado; e a de que o treinador, no caso o Ariosto Miguéis, morria de medo da bola do Emilson, que era o volante do Juventus.
Me chamou a atenção a questão dos salários, ressaltada pelo repórter, por conta do caráter amador do futebol estadual. Quem morava no Acre sabia muito bem que o futebol era amador somente no papel. Mas alguém de fora do estado que visse aquela matéria não iria, provavelmente, entender nada.
O repórter detalhou até os valores da folha salarial do Atlético. Total da referida folha: 400 mil cruzeiros. Maior salário: 20 mil cruzeiros. Menor salário: 10 mil cruzeiros. E tudo isso livre de quaisquer outras despesas. Os atletas comiam, dormiam e tinham a roupa lavada por conta do clube.
Quanto ao medo do competente treinador Ariosto Miguéis, tomo a liberdade de citar o enunciado no texto ipsis litteris. “O técnico do Atlético diz ter muito medo [do Emilson], embora acredite numa vitória.” Palavra do técnico: “Se ele não jogasse seria melhor, ele é um líder, um craque.”
Sobre o Juventus, também duas curiosidades. Uma, a de que havia uma dúvida para o treinador Walter Félix escalar a lateral-esquerda. Outra, a de que o popular Clube da Águia, apesar de um elenco recheado de jogadores de elevado nível técnico, pagava valores ínfimos para os seus craques.
A dúvida para escalar a lateral-esquerda existia por causa do titular Duda, também conhecido como “cabeça de martelo”, que se encontrava lesionado. As opções seriam César ou Paulo Roberto. O César era lateral-esquerdo de origem, o Paulo Roberto era lateral-direito. Dúvida bem cruel.
Saindo, porém, da matéria a qual eu me referi, mas na intenção de completar a informação, Atlético e Juventus empataram o tal jogo em 1 a 1. E o Juventus levou o título, depois de vencer o Moto Clube-RO (2 a 0) e o Independente-AP (6 a 0). Na final um empate e uma vitória com o River-RR.
Francisco Dandão – cronista e tricolor – sabe tudo de futebol e um pouco mais…