Foto de capa: Davi Sopchaki (a quem oestadoacre agradece)
oestadoacre imaginou uma breve conversa com Neutel Maia, o desbravador e fundador do que hoje é a capital do Acre, Rio Branco.
Leia e saiba no que deu:
oestadoacre – Senhor Neutel Maia, o que o motivou a escolher as margens do Rio Acre para criar o seringal Empresa?
NM – A região era rica em seringueiras e tinha um rio navegável, o que facilitava o transporte da borracha. Além disso, as terras eram férteis e ofereciam uma oportunidade única para prosperar no comércio da borracha, que estava em alta naquela época.
oestadoacre – Quais foram os principais desafios que enfrentou ao estabelecer o seringal Empresa?
NM – As condições eram duras. Tínhamos que lidar com doenças tropicais, ataques de animais selvagens e conflitos com indígenas que habitavam a região. Mas com determinação e trabalho árduo, conseguimos superar essas adversidades.
oestadoacre – Como era a vida no seringal naquela época?
NM – Era uma vida de muito trabalho. Os seringueiros passavam longas horas na floresta, extraindo o látex. Não havia muitas comodidades, mas o espírito de comunidade nos ajudava a seguir em frente.
oestadoacre – O senhor imaginava que, 142 anos depois, o seringal Empresa se tornaria a cidade de Rio Branco?
NM – Confesso que não. Naquele tempo, nossa preocupação era sobreviver e prosperar no comércio da borracha. É emocionante saber que o que começou como um pequeno seringal se transformou na capital do Acre.
oestadoacre – O senhor mandava em tudo no seringal empresa?
NM – Mandar em tudo? Não exatamente. É verdade que, como proprietário do seringal Empresa, eu tinha autoridade sobre as decisões gerais e a organização do trabalho, mas um seringal é uma comunidade complexa. Havia os seringueiros, que conheciam a floresta como ninguém e eram indispensáveis para o sucesso da extração do látex. Tínhamos também os regatões, que traziam mercadorias em troca da borracha, e os trabalhadores que cuidavam da logística e da manutenção do seringal.
oestadoacre – A última palavra era sempre sua, né?
NM – Sim, a última palavra era minha. Afinal, como proprietário, eu era responsável por todas as decisões importantes, desde questões sobre o comércio da borracha até os conflitos internos. Mas isso não significa que eu decidia tudo sozinho ou sem ouvir os outros.
oestadoacre – O senhor não pagava salários aos seus trabalhadores.
NM – É verdade, não havia salários como se conhece hoje. No seringal, a remuneração dos trabalhadores era feita através do sistema de aviamento. Fornecia aos seringueiros o que eles precisavam para trabalhar e sobreviver: ferramentas, alimentos, roupas e outros itens, que eram adquiridos na nossa loja de regatão. Em troca, os seringueiros entregavam o látex. O valor da borracha era abatido das despesas que eles tinham na loja. No final, se sobrasse algo, eles recebiam a diferença como lucro. Era um sistema que funcionava, mas reconheço que nem sempre era justo.
oestadoacre – Totalmente injusto…
NM – Sim, já disse. Era injusto e reconheço.
oestadoacre – Se pudesse deixar uma mensagem para os habitantes de Rio Branco hoje, qual seria?
NM – Nunca esqueçam suas raízes. A cidade nasceu do trabalho e da resiliência de homens e mulheres que enfrentaram a floresta para construir um futuro melhor. Que esse espírito de coragem e união continue a guiar Rio Branco.
oestadoacre – Mais uma pergunta: o que se fazia naquela época para se divertir?
NM – Naquela época, o trabalho era intenso e deixava pouco tempo para o lazer, mas ainda assim encontrávamos maneiras de nos divertir e fortalecer os laços da comunidade. À noite, ao redor das fogueiras, era comum ouvir histórias contadas pelos mais velhos, muitas vezes cheias de aventuras, lendas da floresta e ensinamentos sobre a vida. As rodas de conversa eram acompanhadas por músicas tocadas em instrumentos simples, como violas e tambores improvisados.
oestadoacre – Agradeço por essa rápida conversa sobre a cidade que o senhor inventou.
NM – Eu que agradeço a vocês de oestadoacre por essa oportunidade. Sempre que precisar, estarei por aqui.
oestadoacre – obrigado.