oestadoacre reproduz nesta manhã texto de Luis Nassif, a propósito da posse novo, velho presidente dos Estados Unidos. Como a extrema-direita ilude incautos com a sua psicologia de massas.
Agora, sem o bode do expansionismo alemão, os oligarcas da tecnologia e do mercado se aliam ao novo Mussolini.
Trump e a psicologia de massa do fascismo, por Luís Nassif
A imagem de Donald Trump – assim como a de Jair Bolsonaro no Brasil – foi modelada de acordo com o figurino do fascismo dos anos 20.
Tanto lá, como agora, o Ocidente foi submetido a uma ampla financeirização e as mudanças tecnológicas que esmagaram o emprego e deixaram as pessoas órfãs de Estado. Nos dois momentos, a ultrafinanceirização criou um enorme mal-estar, resultando na reação dos movimentos sindicais.
O fascismo conquistou admiradores entre o empresariado por bater de frente com o movimento sindical e praticar um populismo enganador, contando com o uso intensivo das novas mídias – rádio, nos anos 20, redes sociais, agora.
Não fosse o papel de Franklin Delano Roosevelt, e a postura expansionista de Adolf Hitler, e provavelmente o grande empresariado norte-americano teria aderido ao fascismo.
Agora, sem o bode do expansionismo alemão, os oligarcas da tecnologia e do mercado se aliam ao novo Mussolini.
O uso da psicologia de massas do fascismo é nítido.
- Uso de símbolos e gestos
- A criação de “inimigos”.
Hitler apontou os judeus. Trump aponta os imigrantes e os árabes.
Depois do jogo de cena da interrupção provisória do genocídio de Gaza, Trump aprofundará as relações com Israel. No primeiro governo, liberou geral a ocupação de terras da Palestina por colonos judeus radicais.
Algumas lideranças judaicas progressistas manifestaram preocupação com sua eleição. Mas Trump tem recebido amplo apoio de sionistas conservadores.
A Liga Antidifamação – órgão de vigilância do antissemitismo nos EUA – defendeu Elon Musk depois da saudação nazista:
✔“Este é um momento delicado. É um novo dia e, ainda assim, muitos estão nervosos. Nossa política está inflamada, e as mídias sociais só aumentam a ansiedade.
✔Parece que @elonmusk fez um gesto estranho em um momento de entusiasmo, não uma saudação nazista, mas, novamente, reconhecemos que as pessoas estejam nervosas.
✔Neste momento, todos os lados devem dar um pouco de graça um ao outro, talvez até mesmo o benefício da dúvida, e respirar fundo. Este é um novo começo. Vamos esperar pela cura e trabalhar pela unidade nos meses e anos que virão”.
- A ideia do “país grande”.
Mussolini desenvolveu uma política externa agressiva e expansionista, buscando restaurar o Império Romano e aumentar a prestígio da Itália no cenário mundial. Conseguiu expandir o Império Italiano na África e no Mediterrâneo, invadindo a Líbia, a Etiópia e outras regiões. Nas colônias, as populações locais foram submetidas a políticas racistas e opressivas.
A segregação racial foi imposta, com os colonos italianos recebendo privilégios, enquanto os nativos eram tratados como inferiores. Na Etiópia, o uso de armas químicas e a violência sistemática contra a população civil marcaram a brutalidade do regime.
Trump ameaça invadir o Panamá, mudar o nome do Golfo do México, invadir a Groenlândia.
- Os grandes eventos e o culto à personalidade
As celebrações nazistas enfatizavam a unidade do “Volk” (povo) alemão. O regime usava esses eventos para reforçar a ideia de que todos faziam parte de uma grande máquina destinada a restaurar a glória. Nenhuma coincidência com o discurso de Trump.
Hitler era apresentado como o salvador da Alemanha, e seus discursos nos eventos públicos eram o ponto alto das celebrações. A massa era incentivada a demonstrar devoção incondicional
- As batalhas pela produção
Trump anunciou a batalha pela produção interna de petróleo, como maneira de mobilizar o país. Mussolini montou campanhas como a “Batalha pelo Trigo” (para aumentar a autossuficiência agrícola) e a “Batalha pelos Nascimentos” (para incentivar o crescimento populacional).
Os elementos comuns
Há inúmeros elementos comuns no nazismo, no fascismo e no trumpismo:
- Uso de Simbolismo: Ambos os regimes usavam bandeiras, uniformes e gestos (como a saudação romana) para fortalecer o pertencimento ao grupo.
- Exaltação Militar: Desfiles militares eram comuns, simbolizando a força do regime e intimidando opositores.
- Mídia de Massa: Fotografia, cinema e rádio amplificaram o impacto dos eventos, levando uma mensagem além dos locais onde ocorriam.
- Emoção e Controle: Os eventos criavam uma atmosfera emocional intensa, eliminando o pensamento crítico e promovendo o conformismo.
- Liderança Carismática: Ambos projetavam a imagem de líderes fortes, próximos do povo, mas infalíveis e visionários.
- Propaganda Massiva: A propaganda era central para transmitir mensagens simples e emotivas que ressoavam com a população.
- Culpa em “Inimigos Externos” e “Traidores Internos”: Minorias e opositores eram demonizados como responsáveis pelos problemas nacionais.
- Criação de um Ideal de Comunidade: O povo era incentivado a se unir em torno de um ideal nacionalista e cultural comum.
- Ataques aos críticos: Squadristi , conhecidos como “Camisas Negras”, eram milícias paramilitares que atacavam críticos do regime. Eles realizaram espancamentos, destruição de propriedades e, em casos extremos, assassinatos de opositores. Até agora, a ultradireita tem utilizado ataques em massa aos críticos, pelas redes sociais.
O renascimento de Mussolini, à frente da maior nação do planeta, será o desafio da próxima década.
(Luis Nassif, no GGN)