Por Profs. Marcus Fleming e Angela Bessa – Desde a revolução industrial, 1760 – 1840, os centros decisórios das empresas sempre levaram a mão-de-obra a realizar trabalhos exaustivos até que chegasse a ser considerada uma classe proletária operando sob o regime de escravidão, subserviente aos interesses dos patrões. Contudo, ao longo do tempo, os estudos realizados pelas Ciências Humanas – administração, psicologia, psiquiatria, filosofia acabaram por combater a exploração da força de trabalho – na lógica da exploração do homem pelo homem.
É importante ressaltar, que ao se tratar do Planejamento Estratégico, pressupõe-se que o administrador deva ter o mínimo de noção sobre a evolução do capitalismo, e como os estudos sobre o comportamento humano e da administração se expandiram para se propor melhores relações de trabalho, a partir do mundo da produção em série e elevado nível de consumo. Estamos vendo agora, neste século XXI, o quanto as Ciências Humanas já estiveram ao lado da razão, pois enquanto defendiam suas teses, o mundo capitalista fazia ouvidos de mercador, renegando toda uma lógica em defesa de tratamento mais digno e respeitoso para com o ser humano.
O planejamento empresarial teve sua oportunidade e com maior ênfase, a partir dos anos 60, quando as tecnologias de gestão foram evoluindo com o progresso gradativo dos estudos com perspectivas de aperfeiçoar a relação capital-trabalho, em que pese houvesse resistências. Hoje, o foco é fortalecer as evidências de sucesso ou fracasso como decorrência das ações de boa ou má fé com impactos significativos no funcionamento das empresas.
Daí, nosso objetivo aqui é explicar que a administração de qualquer organização deve se pautar por compreender a necessidade de se reestruturar e se envolver com o meio ambiente que contemple em sua pauta os desafios, avanços, retrocessos, porém, em contrapartida busca-se a criatividade, o empreendedorismo e a inovação.
Já vimos, então, no capítulo anterior os conceitos de Missão, Visão e Valores, portanto, gostaríamos de fazer o leitor entender que mesmo que os CEOs se sintam engajados nas funções da administração – planejamento, organização, direção, controle, coordenação, liderança, o conceito de SISTEMA deve estar sempre internalizado, em que pese contar ou não com a presença do Planejamento Estratégico, visto que tal concepção surgira anteriormente à implantação do PE e imediatamente depois fora incorporado ao processo de formulação da estratégia.
Segundo estudos e pesquisas, encontramos, em meio à nossa caminhada, a abordagem da Teoria Geral dos Sistemas tão difundida por Ludwig von Bertalanffy na década de 1930 e que acabou como destaque nas décadas seguintes. Assim a Teoria Geral de Sistemas – TGS passou a fornecer um conjunto de conceitos, princípios e metodologias que passaram a ser aplicados em uma ampla gama de áreas do conhecimento, incluindo a biologia, engenharia, administração, sociologia, psicologia, entre outras.
Para não nos estendermos muito, e dada a importância do assunto, aconselhamos que o leitor busque aprofundar estudos e pesquisas sobre a Teoria Geral de Sistemas – TGS, para ampliar seu autoconhecimento e mitigar as dúvidas que por ora possam surgir .
Para maiores esclarecimentos, Bertalanffy, biólogo austríaco, tornou-se conhecido por apresentar a tese de que a vida e outros fenômenos complexos podem ser compreendidos como sistemas abertos, interativos em constante interrelação. Em seus estudos e pesquisas científicas enfatizava a importância da análise holística e da interação entre as partes de um sistema, conclusão tirada pelos estudos sobre o comportamento da natureza frente às alterações do meio ambiente.
Na gestão moderna o Planejamento Estratégico passa a fazer uma leitura sobre todo tipo de inovação presente no mundo empresarial, isto porque essa ferramenta precisa ser dinâmica dentro do Tribunal de Contas do Acre ou em qualquer organização que tenha como objetivo desenvolver projetos inovadores em todas as áreas detentoras de objetivos e metas a serem cumpridas.
Como estamos trazendo para o nosso estudo de caso, o Tribunal de Contas do Estado do Acre, o que defendemos como tese? Que a Corte deva passar a ser vista como as demais empresas – UM SISTEMA, e muito mais do que isso, UM SISTEMA ABERTO que interage com o meio ambiente, numa troca de sinergia entre a figura da instituição e seus stakeholders, tanto interno quanto externo. Ressaltemos a observância quanto a se empregar o tratamento holístico em todos os campos de atuação.
O conceito de visão holística, foi proposto pelo filósofo Jan Christiaan Smuts, na década de 1920, quando se traduzia o sentido de que é preciso compreender as interações e interdependências, uma vez que a soma das partes formam o todo.
Vamos trazer ao nosso entendimento e à compreensão dos administradores da Corte de Contas, o sentido e o significado de algumas expressões que funcionam dentro do universo da TGS, vejamos: entropia, homeostase e equifinalidade.
Ambiente do sistema empresa
A Entropia refere-se à tendência natural de um sistema caminhar para a desordem. Se faltar entendimentos entre as áreas da Corte de Contas e o subsistema de TI não havendo, portanto, a manutenção de diálogo e sintonia fina entre os colaboradores, consequentemente, haverá um descompromisso com a qualidade do Controle Externo.
Podemos admitir até a hipótese de que, em certo momento, possa vir a ocorrer um processo de adaptação às novas formas de gestão. Principalmente, com a migração do modelo de projeto de um Tribunal de Contas para outro, que requeira ou exija as Interfaces entre a TI e os subsistemas administrativo e operacional, controle contábil e financeiro, gestão de folha de pagamento, gestão de pessoas e políticas de saúde, enfim.
Enquanto houver adequações, adaptações, ajustes às dificuldades surgidas, por sua vez, que essas sejam sanadas no curto espaço de tempo que for considerado razoável, até que tudo entre em estado de equilíbrio.
Tomemos como exemplo hipotético de maior gravidade o seguinte caso: uma certa irregularidade que possa ocorrer na prestação de contas e que na hora do julgamento, numa discussão acalorada, acabe gerando divergências conceituais no âmbito do plenário. E pior ainda, quando a maioria segue o relator. De repente tenha como consequência o julgamento de determinado processo como regular, quando deveria na verdade ser, em tese, irregular com desaprovação das contas.
Quais serão os efeitos colaterais? O que pode estar acontecendo é o fato de haver suspeita de certa proteção, quando o gestor deveria ter suas contas rejeitadas, submetido às sanções pelo descumprimento das normas legais, desobediência à própria Constituição Federal e às legislações complementares.
A sociedade, vindo a tomar tal conhecimento, haverá de imaginar que houve favorecimento ilícito, criando-se um ambiente corporativista. Numa hipótese como esta o comportamento de administradores, conselheiros, gestores, é apontado como falta de transparência e total desalinhamento de posturas éticas com os objetivos estratégicos. Um total desrespeito aos fundamentos e pilares (Missão, Visão e Valores) que dão sustentação aos conceitos de GOVERNANÇA, COMPLIANCE e INTEGRIDADE. Tem como reflexo o retrato falado da deslealdade na governança.
A gente às vezes nem acredita, que com tanta legislação esse tipo de descalabro ainda ocorra na Administração Pública brasileira. Então, o Tribunal de Contas acreano e os demais, portanto devem seguir organizados, estruturados, planejados para que nunca venham a sofrer escândalos de tal magnitude.
Como se não bastasse, já nos é suficiente o conhecimento que temos tido atualmente sobre as fraudes que causaram escândalos no Instituto Nacional de Previdência Social – INSS. Finalizando, o sistema se torna entrópico quando os administradores perdem as rédeas sobre os negócios, e se veem mergulhados no mar da corrupção ativa, passiva, descontrole financeiro, administrativo, patrimonial, resultando em uma gestão incompetente com consequências desastrosas para a imagem institucional, para as políticas públicas e total desrespeito à sociedade.
Homeostase – quando os subsistemas estão funcionando integrados, há uma interdependência entre eles, o que podemos também chamar de condições de estabilidade. Ainda que possa haver adaptação, integração isso significa um processo de reorganização, reestruturação, desde que não impacte de forma negativa, parcial ou integralmente desfavorável à operação dos sistemas.
Os processos de prestação de contas entram na Corte, passam pelas diferentes instâncias – Protocolo, Secretaria das Sessões, Registro, Distribuição, Análise e Auditoria, Gabinetes diversos, Ministério Público de Contas etc. Até que se chegue à Sessão de Julgamento no Plenário da Corte. Os órgãos internos estão em pleno funcionamento, demonstrando haver certa estabilidade dinâmica nos Sistemas e subsistemas.
Nem sempre o processo de reestruturação apresenta característica de total desarranjo, ou Entropia, mas justifica-se tal iniciativa para reorganizar, delegar atribuições, articular movimentos que aperfeiçoem a área administrativa, financeira, auditoria ou outras.
Equifinalidade – significa a capacidade do Tribunal de Contas acreano promover ações que resultem em dinamicidade do sistema de Controle Externo. Faz sentido o fato da Corte de Contas desenvolver a implementação de processos ou projetos que têm a finalidade de adequarem-se às mudanças e transformações no meio ambiente.
A equifinalidade destaca a flexibilidade e a capacidade de adaptação às exigências do mercado. Exemplo: elaboração do Projeto de um Laboratório de Engenharia, formação de Grupos de Trabalho – GT para revolucionar a gestão de pessoas, fortalecimento e aprimoramento do próprio Controle Interno do Tribunal.
O Tribunal de Contas pode chegar aos seus resultados associando flexibilidade e adaptabilidade a partir do desempenho de efetiva liderança, tendo sempre como objetivo final a fiscalização e formação de administradores públicos que prezem pelo correto emprego de políticas públicas.
* Prof. Adm. Marcus Vinicius de L. Fleming, auditor, cursos de extensão, pós-graduação em planejamento e Didática do Ensino Superior, Mestre em Administração pela UFMG.
* Profa. Adm. Msc. Angela Maria Bessa Fleming, pós-graduada em Administração Pública, Mestre em Engenharia Civil – UFF/RJ e Presidente do Conselho Regional de Administração do Estado do Acre – CRA-AC.