Por José Porfiro – Vamos começar no estilo anti-iluminista, servindo-nos da bíblia. Esta prega a valorização do trabalho, inclusive no modo “árduo” (à la Provérbios), como meio para se atingir a prosperidade. A contraface seria, talvez, a pobreza, derivada da condição do desemprego. Agora, (re)posicioando-se no iluminismo, as ciências humanas/sociais alegam que o desemprego traz consequências muito negativas para os indivíduos, como estresse, ansiedade, isolamento social e os dramáticos conflitos familiares.
As ciências econômicas estão no campo das ciências sociais. Suas vertentes mais fortes (duras) não estão preocupadas com reações emocionais de qualquer natureza (depressão, etc.). Quem estiver com quaisquer sintomas emocionais desconfortáveis que busque ajuda em outras áreas do conhecimento.
De modo mais direto, as ciências econômicas se referem ao desemprego quando lidam com o tema do mercado de trabalho, procurando averiguar quantos trabalhadores entram e quantos saem do emprego, em um determinado período. Neste caso, a noção de desemprego ganha destaque, no que diz respeito ao quanto pode explicar o desempenho dos indicadores econômicos, a exemplo do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação.
No caso do Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego, no segundo trimestre de 2025 (abr-mai-jun), foi de 5,8%. Em termos absolutos, este percentual corresponde a aproximadamente 6,3 milhões de desempregados [tabela organizada pelo G1 (abaixo)]. Há quatro anos (início de 2021), esse número chegava a mais de 14 milhões.
São muitos desempregados ou não?Se compararmos com a nossa capital, que tem 364,7 mil habitantes, é como se houvesse 17 (dezessete) Rio Branco desempregadas dentro do país. É gente demais; alguém, ingenuamente, pode dizer. Para as ciências econômicas padrão nem tanto, no caso do Brasil. Como nem tanto? São 6,3 milhões de desempregados? Porque as ciências econômicas não são psicanálise, teologia, psicologia.Imagina.
Essa taxa de desemprego de 5,8%, do segundo trimestre de 2025 (lida pelos recentes manuais de economia de graduação), é exageradamente baixa para o Brasil. Ou seja, seria necessário aumentar o número de desempregados para que a economia brasileira funcione “harmonicamente” em conformidade com os manuais oficiais (patronos dos economistas de bancos e de corretoras). Desemprego alto é bom; resolve distorções de equilíbrio da economia.
Como assim?Os manuais de graduação de economia recentes, traduzidos no Brasil, institucionalizaram um esqueleto teórico que não tem a preocupação de enfrentar a questão do desemprego, tal como na “antiga” versão keynesiana, que buscava aumentar o número de postos de trabalho.
Agora, veio para o primeiro plano a noção, talvez conceito, de taxa natural de desemprego (infelizmente não há espaço para mencionar seu complemento obrigatório, o produto potencial). Há duas maneiras de definir o que é este negócio de taxa natural de desemprego.
Aqui não interessa nenhuma, mas sim a ideia de que qualquer taxa efetiva de desemprego aquém ou além do nível natural, seria um pecado mortal para o bom funcionamento da economia.
