Israel e os assassinatos automáticos. Artigo do Franco ‘Bifo’ Berardi

via ihu.unisinos

Crédito: Ali Jadallah

A ideia de alinhar a inteligência artificial com os valores humanos é exatamente o oposto do que tem acontecido e está acontecendo no mundo da pesquisa e aplicação desta tecnologia: nossas faculdades cognitivas se alinharam ao formato digital do mundo, o que vem ocorrendo nos últimos cinquenta anos, um processo que agora chegou à etapa final: alinhar a inteligência artificial com o imperativo do extermínio, que domina o inconsciente e a ferocidade da seleção natural.

O artigo é de Franco Berardi, publicado por Il disertore e reproduzido por Outra Palavras, 29-10-2024. A tradução é de Antonio Martins.

Quando os seres humanos hesitam em matar ou torturar, a IA assume seu lugar. Como Tel Aviv pinça, nas redes sociais, suas vítimas. Por que, agora, as guerras nunca serão as mesmas. Como esta deriva está desintegrando o Estado sionista.

As guerras do século XXI são cada vez menos combatidas por seres humanos. Os seres humanos são as vítimas, mas quem executa o extermínio são máquinas. Máquinas que, por sua vez, são cada vez menos controladas por seres humanos, pois a tendência implícita nos sistemas de inteligência artificial, dotados de capacidades de autoaprendizagem e de deep learning, é liberar esses organismos, aleatórios e muitas vezes dotados de consciência e sensibilidade, da tarefa de torturar, mutilar, matar e exterminar, e deixar essa função nas mãos de sistemas dotados de inteligência.

A palavra “inteligência” denota a capacidade de realizar uma tarefa, independentemente de sua utilidade social, licitude ética, etc., e, acima de tudo, independentemente das emoções. Inteligência sem sensibilidade, inteligência sem consciência: a máquina inteligente exterminadora é o produto geral do sistema capitalista na era da automação inteligente. O nazismo do século XX teve que considerar os limites da inteligência emocional, como mostra Jonathan Little em seu terrível romance Les bienveillantes (2006; As Benevolentes, 2019). O tecno-nazismo do século XXI, do qual os sionistas são o símbolo e a vanguarda, emancipa-se desses limites.

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