Do jornal ZERO HORA, de Porto Alegre – Amparada por familiares, a mulher com vestido azul e calça branca sai da parte menor do ginásio, tenta sentar numa cadeira de plástico e desaba, indo ao chão com estrondo.
– Médico, médico! – gritam, desesperados, os parentes da senhora, que acaba de reconhecer o filho de 20 anos como um dos mais de 230 mortos na tragédia em Santa Maria.
Um grupo de enfermeiras e psicólogas, com esparadrapos identificatórios no lugar de improvisados crachás, acode a mãe desesperada, que não para de gritar:
– Meu filho, meu filho! Eu quero meu filho, tragam meu filho de volta!
Mas ele não volta.
Assim como não voltarão dezenas de jovens cujos parentes têm, desde o final da manhã, a missão de identificar as vítimas do incêndio em Santa Maria, o maior desastre já ocorrido no país desde a década de 60.
Zero Hora acompanhou, de dentro do Centro Municipal de Desportos, o Farrezão, a dor de quem perdeu o familiar na flor da idade. Tia e madrinha do rapaz, uma comerciária de 48 anos mal conseguia falar.
Ela e o marido reconheceram o corpo do jovem em meio à montanha de corpos que se formou numa das alas do ginásio. Inconfundível, porque estava pilchado, “gaudério” como sempre foi. Tanto que tinha ido na boate, como sempre fazia, para curtir um grupo de fandango. Morreu pisoteado e asfixiado, como a maioria dos demais.
[Presidenta Dilma com familiares das vítimas]
– Tô tão nervosa que voltei a fumar – desabafou ela, acendendo um cigarro no outro. O psicólogo liberou, acrescenta ela, num pedido inconsciente de desculpas pela recaída no vício.
O ginásio parece um formigueiro, tomado por centenas de voluntários que acorreram ao chamado de ajuda feito por meio das rádios. Além de médicos e psicólogos, compareceram assistentes sociais, enfermeiros, soldados e policiais. Muitos em chinelos de dedo e bermuda, que emergência não combina com etiqueta.
Mesmo quem quer ajudar tem de passar por uma sólida barreira formada por PMs do Batalhão de Operações Especiais de Santa Maria. Assim que ingressa, o voluntário recebe uma etiqueta para colar na roupa, com nome e profissão anotados. Aí é designado, pelo Comitê de Crise, para consolar parentes, ministrar medicamentos ou examinar os corpos.
Foi por volta do meio-dia que os familiares, em fila, começaram a entrar na Sala do Desespero, como é chamado o local onde estão os corpos. Gritos, lágrimas e desmaios se sucedem, em sequência. Um vaivém desesperado que inclui o entra e sai de agentes funerários, trazendo mais cadáveres. Todos jovens que a tragédia ceifou.
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