J R Braña B
Cena que aconteceu dias atrás numa dessas empresas famosas que fazem prédios para vender em Rio Branco.
A ideia era, além da mídia normal, enviar para as residências panfletos com informações sobre as condições de negociações das casas.
-Temos que enviar para o pessoal do judiciário federal, MP, médicos, advogados e para o alto escalão do governo e os poucos servidores que ganham acima de 6 mil reais.
Alguém na reunião caiu na bobagem de sugerir:
-Vamos enviar aos professores do estado?
-Pra quê? Não têm dinheiro, não têm condições de comprar um apartamento desses que estamos construindo.
-Professor somente os da Ufac e olhe lá.
-É perda de tempo ficar atrás de professor – emendou outro que estava na reunião.
Realmente.
Um professor não tem condições de comprar um apartamento de 200, 400, 500 mil e muito menos os de até um milhão de reais que se vende em Rio Branco.
Parênteses: (como pode uma casa no Acre valer um milhão de reais?)
Os professores são uma categoria sem valor.
Desde sempre.
A nossa sociedade valoriza mais o médico, o advogado, o engenheiro, o deputado, o policial federal, o jogador de futebol, o apresentador de TV que o professor.
E o que essas e outras profissões têm de superior ao trabalho do professor?
Nada.
Absolutamente nada.
São todas inferiores, mas todas com melhor remuneração que os professores.
Por isso, nesse particular, defendo a proposta do senador Cristovam Buarque, de federalização da educação.
Seu argumento é simples: por que pode haver uma agência do Banco do Brasil, totalmente equipada nos confins do Brasil e não pode haver uma escola totalmente equipada nos confins do país, sendo bancada pelo tesouro nacional?
Por que o governo federal pode pagar bem a um policial ou a um agente da Receita e não pode federalizar a educação e pagar bem a um professor?
E por aí vai…
Estou omitindo, de propósito, o nome da empresa que constrói casas no Acre, e que em suas reuniões internas de estratégias de vendas discrimina os professores.
Porque isso não é um comportamento só dessas empresas… É de toda uma sociedade.
Realmente a vida dos professores não é das melhores.
E cabe às suas entidades – e aos próprios – definirem qual deverá ser o patamar de suas lutas.
Vale à pena lutar por migalhas?
Não raro, a maioria tem enes atividades para conseguir um padrão de vida melhor.
Dedicação exclusiva?
Como?
Só se for para passar necessidades…
Parenteses: (No Brasil, o único professor que conseguiu comprar um apartamento na avenida Foch, em Paris, e que custou 11 milhões de Euros (mais de 37 milhões de reais) foi Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente tucano.
E sabe lá Deus o milagre que FHC fez para adquirir essa casa na cidade mais visitada do planeta)
Não discordo da opinião dos agentes imobiliários do Acre sobre as condições dos professores.
O que questiono nessa atitude é que essas empresas, nenhuma delas, estaria ganhando rios de dinheiro, não fosse o braço da mamãe estado.
Ou seja, o estado as ajuda a ficar milionárias, mas elas não ajudam o estado a melhorar a vida – e a moradia – dos seus servidores.
Porque querem ganhar somente no preço.
Construindo para a elite.
E não na quantidade de casas construídas para a sociedade.
-Casas pra professores…?
-Onde já se viu isso, professor querendo morar bem…?!
-Não vamos perder tempo com isso…
Alguém tem dúvida por que ninguém mais no Brasil quer ser professor?