J R Braña B.
De Buenos Aires
(Fotos: show no bar Esquina Homero Manzi e Casa Rosada)
Os clichês eternos da Argentina são o tango e a garra no futebol.
Mas há muito mais no país dos hermanos que as marcas registradas que conhecemos no Brasil.
É certo que o país está dividido, como o nosso.
Aqui se é Macri (PSDB) ou se é Kirchner (PT), digamos assim.
A realidade: o litro de gasolina custa 16,45 pesos ou 5,48 reais.
Mais caro que em Rio Branco.
E a Argentina, como o Brasil, também tem produção de petróleo.
O problema é que o preço dessa commodities (mercadoria) é definida fora da Argentina e do Brasil.
Um chop aqui em Buenos, num bar qualquer da Avenida Mayo (engraçadíssimo a pronúncia mayo…eles dizem ‘maxo’) você paga 59 pesos ou 19,6 reais.
O bilhete do Metrô está em 4 reais e a passagem nos coletivos 3 reais e poucos.
Detalhe: tanto em Buenos Aires como em Montevidéu, na maioria dos ônibus – não há cobradores.
O próprio motorista recebe o pagamento e entrega um comprovante.
Na Argentina ainda tem o senão de que o passageiro tem que carregar um cartão, pois não é aceito pagar o transporte público com notas ou moedas.
Tudo na tarjeta de plástico que você compra num Kiosco Sube.
Mais prático e seguro, claro.
Ah… nos ônibus não existem a pré-histórica roleta que existe em Rio Branco para evitar que o esperto passe sem pagar.
Aqui quem se atreve a fazer isso é posto para fora na próxima parada por um fiscal.
Vimos – eu e Deyse Maria – um caso desses no Uruguai.
E uma coisa que Rio Branco deveria copiar….: as pessoas fazem fila para entrar nos coletivos…
No terminal da nossa capital os velhinhos são pisoteados pelos marmanjos e pelas marmanjas que não respeitam ninguém.
(Placa em homenagem aos combatentes da Malvinas, em frente à Casa Rosada; trabalhadores argentinos e ministro da economia no Clarin)
Politicamente a direita venceu as eleições para presidente.
Maurício Macri é o novo chefe de estado.
Seu ministro da Economia, Prat-Gay, declarou dias atrás em Davos, que o país está de portas escancaradas para receber as orientações do FMI.
Todos nós do Brasil sabemos o que isso significa.
Arrocho em cima do povo e aumento da miséria.
Os pacotes do FMI são sempre no sentido de favorecer a banca e lascar a vida da maioria com a história de equilíbrio das contas públicas e essas baboseiras que a TV brasileira – e a daqui – fala todo dia.
Porém, os argentinos não estão parados: diariamente em frente à Casa Rosada há manifestações contra Macri, que está há dois meses no governo.
Os argentinos que não votaram nele sabem para o que ele veio…
Nas ruas a disputa política é acirrada.
Vi uma:
O motorista de uma van que nos levava a um show recebe um buzinaço de um taxista…e reage, sem razão:
-?Qué pasa tarado? ?Estás apurado? Su Gobierno ya no está… ahora tenés que respetar las cosas como son…etc..
Veja só: o motorista que levava eu e Deyse Maria estava errado na manobra que fez, porém resolveu contra atacar o taxista o acusando de ser um ex-oficialista, defensor da ex-presidenta Chistina Kirchner e seu governo.
Aos gritos!
Eu fiquei olhando e lembrando…pois isso está ocorrendo no Brasil com os coxinhas e trolls, especialmente em São Paulo.
Outros reclamam dos subsídios que o estado paga aos mais pobres.
É um horror como age a direita na Argentina e no Brasil também.
Eles querem tudo para eles.
Não aceitam a inclusão.
Não aceitam a divisão.
Nem o desenvolvimento para todos.
Querem um país para alguns.
(Café Tortoni, mais antigo bar; Igreja que Francisco trabalhava, Calle Domingo Peron, Obelisco e Mafalda)
Bem…mas a Argentina não é só guerra política e guerra entre o River e o Boca.
No jogo de ontem (sábado) o Boca aprontou mais uma vez e o salseiro comeu forte dentro de campo em Mar del Plata.
O River venceu, claro.
Buenos Aires é uma cidade com vida intensa.
Pulsante.
Vibrante.
Bela.
Chiquérrima, diriam os colunistas sociais da mídia do Acre.
Seus prédios clássicos fazem os argentinos dizerem orgulhosos que a cidade parece com Paris…E parece mesmo!
Algumas ruas no centro, onde acontece tudo, são como se você estivesse na capital francesa.
A 9 de Julho é a avenida mais larga do mundo, os argentinos dizem isso para todo turista.
A via é impressionante.
Arborizada, como quase todas as ruas em Buenos Aires.
Com uns cinco mini terminais de acesso aos coletivos, fora as entradas para o Subte (metrô).
O obelisco parece mágico.
Imponente.
É o sítio das comemorações grandiosas da Argentina.
Bife de Chorizo e empanadas são como banana no Acre ou farinha em Cruzeiro do Sul.
Pessoalmente gostei mais do Bife de Chorizo uruguaio.
Mais bem feito.
As carnes, no entanto, são completamente macias.
O perigo de quebrar um dente é ‘chiquito’.
No país de Homero Manzi, Piazola, Mafalda, Guevara e o Papa Francisco a emoção é que conta.
Não há como não se emocionar em Buenos Aires.
Basta uma noite.
Basta uma tarde pela Recoleta dos endinheirados ou uma manhã pela Boca dos paupérrimos.
Tudo é sentimento.
Buenos Aires tem muito mais que a arrogância dos argentinos mal educados.
Buenos Aires tem amor flutuando pelo ar.
Das cidades que conheci até hoje é a que mais me impressionou.
Voltarei (emos).
J R Braña B.