cronicadan
Francisco Dandão
Para além do que a gente vê em campo, a vida dos desportistas tem tanta coisa que a gente nem imagina. E, às vezes, as histórias pouco conhecidas do grande público são mais interessantes do que a parte que a gente sabe. Os bastidores são tão peculiares quanto curiosos. Bem curiosos!
Um dia desses, a exemplo disso que eu disse aí nesse primeiro parágrafo, eu fiquei sabendo de uma história super interessante, sobre ninguém menos do que o querido rei Pelé. Uma história contada pelo jornalista francês/brasileiro Michel Laurence, falecido em outubro de 2014.
Segundo Laurence, o fato aconteceu em meados da década de 1960, quando ele acompanhou uma delegação do América carioca numa excursão ao Haiti (naquele tempo o calendário do futebol brasileiro ainda permitia aos clubes saírem pelo mundo ganhando uns trocados), no ensolarado Caribe.
Reinava absoluto no pequeno país caribenho o ditador François Duvalier, mais conhecido pelo pseudônimo de Papa Doc. Era uma ditadura feroz e a população se agarrava em qualquer possibilidade de sonho que pudesse minimizar o seu sofrimento. O futebol era um desses sonhos.
Eis que, então, depois de um jogo em que o América derrotou a seleção local (um a zero, gol de Eduardo), uma senhora de compleição física longilínea, extremamente magra, vestida de luto, se aproximou de onde estava um grupo de brasileiros e perguntou quem era o jornalista Laurence.
Uma vez feitas as apresentações, a senhora pediu a Michel um minuto de atenção em particular. E, tão logo ficaram sozinhos, ela quis saber se ele era amigo do Pelé. Como o jornalista confirmou a amizade de longas datas com o rei, a pergunta seguinte foi a de quem seria a feiticeira do negão.
O jornalista Michel Laurence, surpreso com a pergunta, respondeu para a senhora, quase gaguejando, que não sabia que o Pelé tinha uma feiticeira particular. A mulher retrucou que era claro que Pelé tinha uma feiticeira e que se não tivesse não poderia fazer tudo aquilo que ele fazia.
Em seguida a mulher confessou que era uma feiticeira em Porto Príncipe e que tinha muitos jovens jogadores sob a sua orientação. Por isso ela queria saber quem era a feiticeira de Pelé, para copiar os seus métodos. Talvez, assim, ela pudesse fazer seus orientandos jogarem tanto quanto o rei.
Sabedor das magias que Pelé fazia com a bola, o jornalista disse que por alguns segundos chegou a acreditar que aquela feiticeira haitiana podia ter alguma razão. E ficou de falar com o Pelé sobre o assunto. “Causos da Bola” se chama o livro onde eu li essa e outras histórias. Delícia de livro!
Francisco Dandão – jornalista e escritor