#propaganda
Este blogueiro de fim de mundo tem visto um particularidade na cobertura da mídia brasileira, da Argentina, Chile, Uruguai e outros, além da Europa…a uniformidade na defesa do presidente da Ucrânia e nos ataques à Rússia…o GGN de Nassif foi a fundo e mostra as coincidências do que já desconfiávamos aqui….Tire 15 minutos para essa leitura abaixo porque você não vai ouvir esse tipo de informação dos ‘especialistas comentaristas de tv’ – J R Braña B.
Xadrez de Zelensky, o ‘heroico comediante’ inventado pela mídia, por Luis Nassif
Recentemente, Michel Colborne, o maior especialista na ultradireita da Ucrânia lançou seu alerta sobre a maneira como a mídia minimiza o neonazismo da Ucrânia, para não fortalecer Putin: O silêncio não fará a extrema direita ucraniana ir embora – Agir como se qualquer menção ao problema alimentasse a propaganda do Kremlin só o torna pior.
A atual cobertura da guerra da Ucrânia está expondo pela primeira vez, na era Google, as vinculações entre a mídia corporativa brasileira e a internacional – e com os interesses geopolíticos do Departamento de Estado.
Lava Jato foi uma operação de dentro para fora, da cobertura da mídia nacional sendo a fonte primária das informações. Assim, as vinculações eram identificadas através das relações óbvias entre juiz, procuradores e delegados com o Departamento de Justiça e do Estado.
Agora, não. Tem-se uma guerra de informações internacional, na qual o jornalismo é sacrificado, tornando-se propaganda.
O mainstream transformou a cobertura jornalística em um roteiro da Marvel. Não consegue conceber que, de um lado, há um autocrata insensível – Vladimir Putin – e de outro um governante autoritário – Zelensky.
Ele já foi apresentado aos leitores de O Globo como o “heróico comediante”, aplaudido de pé no parlamento britânico e transformado em herói pela imprensa ocidental. Fiquei esperando que os comentaristas internacionais da mídia nativa trouxessem mais dados sobre o Zelensky pré-guerra. Quem era ele? Como era seu governo antes da guerra? Quais suas relações com a extrema direita?
Aguardei em vão. E, aí, fui à luta e descobri um personagem extremamente parecido com Jair Bolsonaro.Veja os pontos de convergência:
Ponto 1 – com Departamento de Justiça e tudo
No Brasil e na Ucrânia, o primeiro movimento consistiu no impeachment de Dilma Rousseff; na Ucrânia na queda de Viktor Yanukovych, pró-Rússia.
“A crise começou em novembro quando Yanukovych recusou um acordo comercial com a União Européia (UE) que estreitaria os laços do país com o bloco em favor de uma aproximação da Rússia. Isso despertou a insatisfação de parte dos cidadãos e políticos que desejavam ver a Ucrânia mais próxima da UE”.
À BBC, Yanukovych discordou que tenha sido deposto. “
“Ninguém me derrubou. Fui forçado a sair do país porque a vida e a de meus entes amados estavam ameaçadas pelos vândalos fascistas que tomaram o poder”, disse.
O mesmo ocorreu por aqui. Movimentos como o MBL, sites de direita do Paraná e outros levantaram dossiês contra juízes da Suprema Corte, campanhas difamatórias contra os adversários do golpe, discursos de ódio contra a presidente, auxiliados por uma mídia propagadora do ódio. E, por trás, as parcerias do Departamento de Justiça (DoJ) com a Lava Jato.
No caso da Ucrânia, a participação americana ficou nítida em vários momentos, conforme o bem documentado fio do perfil @historiapensar do Twitter
Havia o envolvimento direto do vice-presidente americano Joe Biden.
Joe Biden, então vice-presidente dos Estados Unidos, cumprimenta Petro Poroshenko, empresário bilionário que assumiu a presidência da Ucrânia após o golpe de Estado de 2014, que derrubou o governo pró-Rússia de Viktor Yanukovich.
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— Pensar a História (@historia_pensar) March 17, 2022
Foi firmado um acordo anticorrupção com o Departamento de Justiça norte-americano nos moldes da Lava Jato. O acordo dava ao Departamento de Justiça dos EUA o direito de indicar conselheiros de justiça, promotores e juízes para atuar diretamente no judiciário da Ucrânia, além de financiar a formação de advogados e quadros do judiciário ucraniano em Washington.
O modus operandi guarda semelhanças com a devastação do setor produtivo brasileiro causado pela Operação Lava Jato. Na Ucrânia, a operação foi viabilizada por uma parceria “anticorrupção” firmada entre o judiciário ucraniano e o governo estadunidense.
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— Pensar a História (@historia_pensar) March 17, 2022
Em 2018, o Relatório Anual da OCDE detalhou o trabalho efetuado na Ucrânia.
“Em 2018, o Projeto Anticorrupção da OCDE para a Ucrânia recebeu novo apoio financeiro dos Estados Unidos e da Polônia, o que contribuiu para a capacitação aprofundada para lidar com a corrupção de alto perfil. (…)
O Projeto, em cooperação com a Embaixada dos EUA na Ucrânia (OPDAT e INL), organizou dois treinamentos em 2018, um dos quais realizado nas instalações da International Law Enforcement Academy (ILEA) em Budapeste, Hungria. O uso da experiência nacional se expandiu ainda mais: um dos analistas da NABU (o Gabinete Nacional Anticorrupção) atuou como um dos oito instrutores permanentes; especialistas da FIU (Serviço de Acompanhamento Financeiro, o COAF de lá), da Suprema Corte, do State Property Fund, da TI Ucrânia e da academia nacional contribuíram em suas respectivas áreas do módulo”.
A consequência foi o cerco às grandes empresas ucranianas e um processo rápido de privatização. Participou do processo o mesmo escritório Baker McKenzie que a Lava Jato brasileiro enfiou em várias estatais para instituir processos de compliance.
O acordo dava ao Departamento de Justiça dos EUA o direito de indicar conselheiros de justiça, promotores e juízes para atuar diretamente no judiciário da Ucrânia, além de financiar a formação de advogados e quadros do judiciário ucraniano em Washington.
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Em ambos os casos – Brasil e Ucrânia – o novo governo foi assumido por políticos impopulares e com reputação duvidosa, Michel Temer no Brasil, Pedro Poroschenko na Ucrânia. Criou-se um vácuo. De um lado, a opinião pública ainda anestesiada pela campanha do impeachment; do outro, governos impopulares. Obviamente, abriu-se espaço para candidatos populares, anti-sistema, gente como a gente que pudessem substituir os políticos anteriores.
Teve então a busca e a criação de “mitos”, capazes de dar viabilidade a uma frente que, tanto no Brasil quanto na Ucrânia, juntou mercado, empresariado e movimentos de ultra-direita.
Ponto 2 -a fabricação do mito
A imagem de ambos – Bolsonaro e Zelensky – foi construída com discurso anti-sistema, anti-corrupção, parceria com órgãos de repressão e amparados por uma enorme polarização política: Bolsonaro contra qualquer cheiro de esquerda, Zelensky explorando o sentimento anti-Rússia. E apoiados fortemente pelo aparato de mídia e pelos algoritmos da rede.
Até então, Zalensky era apenas um comediante que valeu-se da era digital para montar esquetes que conseguiram um bom mercado na Rússia. Quando estourou a guerra da Crimeia, o mercado se fechou. Aí, abriram-se as portas da maior rede de televisão da Ucrânia, de propriedade do oligarca Ihor Kolomoisk, um ucraniano que rompeu com Putin.
Zelensky surgiu para a política após a série, na qual interpretava um professor contra a corrupção, e que se tornou presidente após sua imagem viralizar na rede.
A série de TV viralizou.
Kolomoisky viu, a exemplo de Robert Civita e dos irmãos Marinho, no Brasil, a grande oportunidade de assumir o poder.
No Brasil, a Associação Nacional dos Jornais se autodenominava a verdadeira oposição. Na Ucrânia, Kolomoisky financiou um novo partido político, o Servos do Povo – nome do programa -, bancou uma milícia de ultra direita, o Batalhão Azov, e trabalhou na criação do mito Zelensky.
O humorista foi submetido, então, a um curso rápido de lero-lero de campanha, no qual surpreendeu seus professores pela profunda ignorância não apenas sobre política mas sobre questões básicas de direito, conforme reportagem de Franklin Foer na revista The Atlantic. Nada diferente do mito Bolsonaro.
Lançou-se candidato escondendo do distinto público sua fortuna, de mais de US $15 milhões, e mansão comprada fora da Ucrânia.
Segundo Foer, quatro dias antes da posse de Zelensky, o oligarca Kolomoisky embarcou em um jato particular, voltando de um exílio auto imposto em Israel, para escapar de vários processos, um dos quais o de ordenar assassinatos contratados, e quebrar um banco nacional.
Ponto 3 – o defensor do mercado
Assim como Bolsonaro, Zelensky surgiu como candidato preferencial de forças pró-mercado. E usando como retórica primária o combate à corrupção – Ucrânia consegue superar o Brasil nos rankings internacionais de corrupção.
No poder, seguiram caminhos semelhantes.
Bolsonaro perdeu apoio dos “reformadores” depois dos desastres continuados de Paulo Guedes. Zelensky perdeu apoio após a renúncia do gabinete liderado por Olesksiy Honcharuk, em março de 2020.
Segundo o OSW, Centre of Eastern Studies, desde este episódio, Zelensky abandonou seu plano de realizar uma reconstrução abrangente da elite política da Ucrânia, substituindo suas principais figuras por ‘novos rostos’ imaculados, conforme promessa de campanha. Passou a indicar pessoas da sua confiança para todos os cargos estratégicos.
Em julho de 2019, antes da grande virada, nomeou Maksym Nefodov como vice-ministro da Economia e Desenvolvimento, chefe do Serviço de Alfândega, a maior fonte de receita do país.
Nefodov tentou implementar um sistema de contratação pública conhecido como ProZorro – uma plataforma eletrónica para garantir a transparência dos concursos públicos, que desencadeou uma série de ataques lançados contra ele na mídia.
Seguiu-se a sua demissão a pretexto de insuficiência de receitas transferidas pelo serviço aduaneiro para o Orçamento do Estado. Nada diferente do afastamento de fiscais da Receita e policiais federais que atrapalhavam o movimento de contrabando do porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Nos nove meses seguintes, o chefe do SCS foi substituído quatro vezes e a reforma da instituição foi interrompida.
A demissão de Nefodov fez com que quadros técnicos se afastassem do governo, já que os critérios para avaliação de seu trabalho passaram a ser a obediência às ordens emanadas da presidência.
Na nova etapa, uma das estrelas em ascensão foi Oleh Tatarov, nomeado no dia 20 de agosto de 2020 vice-chefe do Gabinete da Presidência, responsável por supervisionar as agências de aplicação da lei. Tatarov era um colaborador próximo de Andriy Portnov, o vice-chefe da administração do presidente Viktor Yanukovych, responsável por perseguir ativistas do Euromaidan (leia mais sobre ele no capítulo sobre corrupção).
Ponto 4 – o aparelhamento dos órgãos de controle
Com o tempo, a face mais polêmica de Zelensky foi a maneira como passou a usar a polícia e os poderes judiciários para promover os interesses de seu grupo e intimidar os rivais políticos.
Para tanto nomeou um velho amigo de escola, Ivan Bakanov, como chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).
O SBU tem um histórico de suspeita de usar sua jurisdição sobre crimes econômicos para facilitar a corrupção e a invasão de empresas. Zelensky acenou com um projeto de reforma do SBU. A Human Rights Watch e mais de 20 outros grupos de direitos humanos alertaram que o projeto, no fundo, representava uma tomada de poder por ele. Segundo o alerta, o projeto dá ao SBU “poderes excessivamente amplos nas esferas de inteligência e aplicação da lei, enquanto faltam as salvaguardas essenciais necessárias contra o abuso desses poderes”.
A reforma do Ministério Público acabou em poucos meses. Em março de 2020, o procurador Rusian Riabonhapka foi demitido e substituído por Irina Venediktova, apontado como suscetível a sugestões do Gabinete da Presidência.
Uma de suas primeiras decisões foi reintegrar procuradores demitidos no processo de reformas. E retomar o padrão anterior, de sabotar investigações contra representantes da elite política e empresarial.
Foi assim com o abrandamento das investigações no chamado caso da fórmula de Rotterdam+, que resultou na perda do tesouro de US $1,4 bilhão. O principal beneficiário da jogada foi o homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov.
Outros casos conhecidos incluíram a investigação contra ex-executivos do PrivatBank (que até 2016 pertencia a Ihor Kolomoysky, o padrinho político de Zelensky e depois foi nacionalizado) e a extradição de Oleh Bakhmatiuk (um oligarca acusado de desviar US$ 49 milhões do VAB Bank). O dinheiro era um empréstimo de estabilização oferecido pelo Banco Nacional da Ucrânia.
O caso mais ostensivo ocorreu em março de 2020, quando um irmão de Andriy Yermak foi gravado oferecendo emprego no Ministério da Infraestrutra e no Serviço de Alfândega em troca de propinas.
Andriy Borisovich Yermak é um produtor de cinema ucraniano, advogado e atual chefe da administração presidencial. A alegação de Zelensky é que ninguém foi nomeado para os cargos, logo a corrupção não se consumou. Assim como no caso Marielle, a SBU deteve quem fez as gravações, um parlamentar que divulgou as gravações.
O caso mais chocante envolveu envolveu Oleh Tatarov, o vice-chefe do Gabinete do Presidente. Ele já havia sido investigado nas operações contra o ex-deputado Maksym Mykytas (acusado de desviar fundos destinados à construção de apartamentos para funcionários da Guarda Nacional da Ucrânia). Em 2017, ele trabalhou como advogado de Mykytas e supostamente subornou um funcionário do Ministério do Interior em troca de um parecer falso.
Ai entrou o PGR Venediktova ordenando que as investigações fossem transferidas para a SBU. Em seguida, os promotores do Gabinete do Procurador-Geral retiraram sua moção e Tatarov permaneceu em liberdade. Na sequência, o Tribunal acusou Mykytas de ordenar um sequestro e emitiu um mandado de prisão contra ele, afastando de cena uma testemunha inconveniente que poderia depor contra Tatarov.
O prefeito de Kiev, Vitaliy Klitschko, acusou Zelensky de tentar “pressioná-lo” em maio, quando oficiais armados da SBU invadiram seu bloco de apartamentos .
Pacto 5 – os oligarcas de Zelensky
O portal Euobserver relatou que, no começo do terceiro ano de sua presidência, Volodymyr Zelensky tinha um índice Jair Bolsonaro de impopularidade. Apenas 21,8% dos ucranianos votariam nele em reeleição, contra 73% que o elegeram. Mais da metade da população era contra sua candidatura.
Para tentar recuperar popularidade, Zelensky proibiu três estações de televisão controlada por Viktor Medvedchuk e a subsequente prisão do oligarca por suspeita de traição. Seria uma inequívoca prova de independência não fosse o fato de Medvedchuk ser o principal concorrente do oligarca Ihor Kolomoisky, dono da rede de TV que lançou Zelensky e principal financiador de sua campanha.
Medvedchuk foi acusado de colaborar com a Rússia para ocultar sua propriedade de ativos de energia na Crimeia. Mas Kolomoisky , o patrono de Zelensky, está sob investigação nos EUA por fraude e lavagem de dinheiro.
O jogo e o enfraquecimento políticos de Zelensky foram expostos em dezembro de 2020, quando foi demitida a Ministra da Energia, e Kolomoysky tentou emplacar Yuri Vitrenko, ex-diretor executivo da Naftogaz. Zelensky empenhou-se pessoalmente em sua nomeação, mas ele obteve apenas 186 votos, 153 dos quais do Servo do Povo, insuficientes para sua aprovação.
O enfraquecimento político de Zelensky, com o enfraquecimento do Partido do Povo, levou-o a se valer de dois recursos para pressionar os parlamentares: o chicote, ou seja, ameaças de que podem ser iniciadas investigações contra deputados individuais; e “a cenoura” na forma de maiores bônus financeiros informais pagos em troca da participação na votação.
Nada diferente do padrão Bolsonaro.
Pacto 6 – a OTAN e a União Europeia
Em crise com seus principais padrinhos, Estados Unidos e União Europeia, é bastante provável que Zelensky tentasse sua última grande tacada: a adesão à OTAN e à União Europeia.
Nada justifica a invasão russa e a crueldade de Vladimir Putin contra a população civil da Ucrânia, emulando presidentes americanos que destruíram países do Oriente Médio. Esse é o grande nó de uma cobertura jornalística que ultrapassou os limites do jornalismo para enveredar pelo da propaganda, a incapacidade de condenar Putin sem esconder os vícios do outro lado.
Recentemente, Michel Colborne, o maior especialista na ultradireita da Ucrânia lançou seu alerta sobre a maneira como a mídia minimiza o neonazismo da Ucrânia, para não fortalecer Putin:
O silêncio não fará a extrema direita ucraniana ir embora – Agir como se qualquer menção ao problema alimentasse a propaganda do Kremlin só o torna pior.
Mas, como pontifica Carlos Alberto Sardenberg,
“Chega de comparar a invasão da Ucrânia com Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão — Estados incentivadores de terrorismo. EUA e Europa têm seus pecados, mas não se pode compará-los à Rússia de Putin. Por que Putin simplesmente não deixou essa integração prosseguir? A melhor hipótese: ele temia que a ligação “excessiva” com o Ocidente mostrasse aos russos onde a vida é melhor”.