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Kairo Ferreira de Araújo, estudante da Ufac
Deus e as Eleições Gerais
No Brasil temos uma bancada evangélica no congresso nacional, cada ano políticos ligados a grupos religiosos cristãos ganham mais e mais influência nas eleições nacionais e regionais, parece que a separação entre as coisas de César e as de Deus é somente coisa da Bíblia e daquele cara chamado Jesus, hoje, boa parte dos nossos “representantes” querem o de Deus e o de César, tudo junto e misturado.
É inquestionável que cada grupo social possa ter seus representantes em postos políticos de relevância, até aí tudo bem, a questão é que a estrutura política brasileira não é conhecida por ser necessariamente proba e honesta, sendo sincero, é justamente o contrario de honestidade e probidade, o que vem a cabeça de um brasileiro quando ele pensa no que fazem os políticos “profissionais”.
Deus Vota?
Algumas interpretações do velho livro sagrado cristão (Bíblia) abusam do limite interpretativo, o intelectual italiano, chamado Umberto Eco (1932-2016), escreveu um livro chamado “Os limites da interpretação”, o nome da obra já é bem sugestivo, ele sugere no livro que não podemos interpretar arbitrariamente um texto, ou seja, não podemos destoar gritantemente do sentido original de um escrito. Um dos mandamentos cristãos é; Êxodo: 20:13 “não matarás”, mas curiosamente houve crentes ungindo armas (até onde eu sei armas só servem para matar), também há aquela passagem famosa, em Mateus 22:21 ; “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”, mas não, alguns entendem e interpretam que não é bem assim, talvez quando o livro disse “não matarás”, queria dizer que devemos andar com armas e matar caso seja necessário, que misturar o sagrado e o secular é uma excelente ideia, pois afinal o que tem de errado com os nossos políticos? No Brasil não existe milicianos envoltos no poder, não há corrupção estrutural, trocas de privilégios nem nada disso, qual o mal de involucrar Deus nisso?
Deus não vota e nem nunca pediu ou mesmo defendeu um sistema de governo, o cerne das questões cristãs é a salvação espiritual e o alcançar do paraíso no além-mundo, como diz o renomadíssimo historiador francês Paul Veyne, em seu livro Quando o nosso mundo se tornou Cristão: “O cristianismo é uma religião e não um programa social ou político. Não tinha nada a mudar na sociedade. Não haveria nenhuma queixa a fazer, assim como não se condenará o marxismo por não cuidar da salvação das almas no além. Como todos fomos resgatados pelo Cristo, todos estamos aptos para a salvação e participamos da mesma condição metafisica, somos todos irmãos, mas em “Cristo” e quanto à nossa alma imortal.”
Além disso, quando “líderes religiosos” inescrupulosos arrebanham suas ovelhas para fazerem um curral eleitoral, passam a ideia de um político eleito por uma espécie de vontade divina, que Deus o colocou lá, a maldade que está por trás disso é imensa, para quem acredita nessas distorções do livro sagrado é terrível e muito perigoso à noção de democracia, pois afinal, quem vai questionar o eleito pela deidade, como uma ovelha pode ir contra a suposta vontade de Deus.
O voto é uma conquista cidadã e é muito importante que todos votem e cobrem os políticos por melhorias em nossa sociedade, mas a ideia de endeusamento de um ser humano é absolutamente tosca e tola, não misturem as coisas, o fato de alguém ser de uma determinada religião não é sinônimo de honestidade irrestrita e de infalibilidade, se assim fosse não haveria casos de corrupção que envolvessem homens de fé, não ocorreriam casos de pedofilia em que esses sujeitos estivessem envoltos etc. O futuro do país e dos estados está em nossas mãos, não só elegendo políticos para ocupar cargos em Brasília e nos demais entes federativos, no dia 2 de outubro de 2022, mas, sobretudo com a cobrança e vigilância da sociedade brasileira, que deve ser permanente e ininterrupta.
REFERÊNCIAS
*Eco, Umberto. Os limites da Interpretação. 2ª edição; São Paulo: Perspectiva, 2015.
*Veyne, Paul. Quando o nosso Mundo Se Tornou Cristão. 2ª ed. Rio de Janiro/RJ, Civilização Brasileira, 2011.