Por Chagas Batista
Raízes e Tronqueiras e a semente que quase me tira vida
Em Santa Maria, onde nasci, apesar da exploração brutal do barracão, da ausência completa do estado e de serviços públicos, a gente tinha de tudo que uma família sem seringais e propriedades podia ter. Aos seis anos de idade enfrentei o mais doloroso sofrimento. Uma semente de melancia entrou no meu nariz e subiu no gurgumim(ulvula ).
Na medida em que o tempo ia passando aumentava a dificuldade de respiração. Não havia barcos motorizados para chegar até à cidade. Era necessário pegar o remo e o varejão para fazer a viagem. Dependendo do volume das águas do Rio Tarauacá, demorava três a quatros dias. Meu pai teve que improvisar um barco com um casco (canoa) e uma cobertura de japá (palha e cipó).
Quando chegamos à cidade eu já não conseguia dormir. O mais difícil quando minha mãe que acompanhava no hospital foi informada que em Tarauacá não havia solução para retirar a semente. Era preciso viajar para Rio Branco.
Era muito difícil minha situação, “a vida de um filho de seringueiro dependia ‘sensibilidade” do barracão, então, para viajar e não morrer à míngua, era preciso esperar um avião da FAB – Força Aérea Brasileira, que só vinha à cidade uma vez por mês.
Esperamos mais de uma semana para o avião chegar. No dia de partir para Rio Branco, no caminho para aeroporto, minha mãe carregava uma mala de pau em uma mão e na a outra segurava meu braço.
Correndo e cansando quase sem poder respirar, tive que parar para respirar, fiz um esforço, enchi o peito de ar e dei um espirro… A semente voou fora. Não era mais uma semente era quase um pé de melancia.
O alivio das minhas narinas e meu peito foi imenso, a felicidade da minha mãe maior ainda. Peguei a mala que minha mãe carregava, coloquei nas costas e voltamos para organizar nosso retorno à Santa Maria.
Quando chegamos de volta em casa foi uma festa. Minha família havia recebido a noticia que havíamos viajado para Rio Branco muito mal. Uma semente no nariz quase interrompe minha vida. Contudo, adoro melancia.
Chagas Batista, de Tarauacá