oestadoacre reproduz de Álvaro Costa e Silva(na Folha de S. Paulo) texto didático que ajuda na reflexão nos dias de hoje…para ler e reler…
Celular de Mauro Cid não para de falar
As pessoas hoje se autoincriminam ao não resistir aos aplicativos de mensagem
No tempo dos ditados, o peixe morria pela boca. Hoje as pessoas se autocondenam ao não resistir ao apelo da besta que mora nos aplicativos de mensagens. Personagens da cena atual —o deputado Deltan Dallagnol, o ex-jogador de futebol Bruno Lopes e o tenente-coronel Mauro Cid— geraram, eles próprios, áudios e textos que os estão incriminando diante da Justiça.
Existe uma palavra para definir a atitude dos três. A nomofobia (do inglês “no mobile phobia”) é um vício que transforma o mundo virtual na coisa mais importante da vida. O transtorno não se restringe apenas ao uso sem limite dos comunicadores de mensagens, mas sobretudo ao medo de ficar sem o celular ou ser impedido de usá-lo. Se não há conexão com a internet ou a bateria do aparelho está fraca, bate a fissura.
Ao travar diálogos para lá de ardilosos no Telegram com o juiz Sergio Moro e colegas procuradores, enquanto coordenava a Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol virou alvo do Conselho Nacional do Ministério Público. Para não ser demitido, exonerou-se. Por considerá-lo ficha suja, o TSE cassou seu mandato. Coitadinho, deveria ter digitado menos. Ou pensado antes de bater furiosamente com os dois polegares nas teclas.
O celular de Mauro Cid parece a preta do leite: não para de falar. Entregou o plano golpista de prender o ministro Alexandre de Moraes; o esquema de desvio de dinheiro a favor de Michelle Bolsonaro; a conta secreta do ex-presidente nos EUA. Ao adotar o silêncio no depoimento à PF, Cid deve estar preparando uma delação. No entanto, o fio das mensagens —que já é longo— pode levar a profundidades ainda maiores.
Álvaro Costa e Silva