O general Abdourahamane Tchiani leu nesta sexta-feira um comunicado na televisão estatal do Níger apresentando-se como “presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP)”, a junta militar que derrubou o presidente Mohamed Bazoum na quarta. Desde então, o mandatário pró-Ocidente está detido pelos golpistas no próprio palácio presidencial.
Tchiani, que é chefe da Guarda Presidencial, justificou o golpe pela “deterioração da situação de segurança” no país africano devastado pela violência de grupos jihadistas. Na quinta, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do país africano havia declarado seu apoio ao golpe, afirmando ter tomado tal decisão para “evitar um confronto mortal entre as diferentes forças”.
Com 62 anos, Tchiani foi escolhido para comandar a unidade de elite das Forças Armadas do país em 2015. Ele é da região de Tillaberi, um importante ponto de recrutamento para o Exército. Tchiani é um aliado próximo do presidente Mahamadou Issoufou, que governou o país até 2021. Também foi uma figura importante para repelir uma fracassada tentativa de golpe em março de 2021, dias antes da posse de Bazoum, que foi eleito democraticamente.
Mais cedo nesta sexta, o presidente da França, Emmanuel Macron, havia descrito o golpe como “perigoso” para a região:
— Este golpe é completamente ilegítimo e profundamente perigoso para os cidadãos do Níger, para o Níger e para toda a região — disse o francês, afirmando que conversou com Bazoum e pediu para que fosse reempossado como presidente.
O chefe do Palácio do Eliseu juntou-se a um leque de potências ocidentais que buscavam preservar um aliado importante no Sahel, região que enfrenta grandes desafios de grupos jihadistas.Estados Unidos, Rússia, e França — com presença militar no país — condenaram nas últimas horas o golpe de Estado. As Nações Unidas anunciaram a suspensão de atividades humanitárias no país.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também criticou qualquer esforço para tomar o poder pela força no Níger e pediu a libertação imediata do presidente. O português se disse muito preocupado com o que chamou de uma “tendência preocupante” na região do Sahel de governos atacados pelo “extremismo violento”.
Na quinta, os militares que lideram o golpe acusaram a França— que tem 1.500 soldados baseados no Níger — de ter infringido o fechamento das fronteiras, ao aterrizar um avião militar no aeroporto internacional de Niamei. Nos últimos dias, suspenderam também todas as instituições do país, fecharam as fronteiras terrestres e aéreas e impuseram um toque de recolher nacional das 22h às 5h “até que a situação se estabilize”.
Até quinta, contudo, o apoio não parecia ser completo. Bazoum tuitou afirmando que “os avanços duramente conquistados serão salvaguardados”, enquanto seu ministro das Relações Exteriores e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou, afirmou que “o poder legal e legítimo é exercido pelo presidente eleito”.
Nas ruas, no entanto, centenas de pessoas apoiaram o golpe, nas primeiras manifestações de apoio na manhã de quinta. Na capital, Niamei, uma multidão repleta de bandeiras russas gritava “Abaixo a França, viva a Rússia”, perto da Assembleia Nacional. Em Dosso, cem quilômetros ao sudeste da capital, centenas de manifestantes também percorreram as ruas antes de realizarem um comício apoiando o golpe militar, segundo um dos organizadores, Hassane Bagué.
O Níger é um dos últimos aliados do Ocidente na região do Sahel, devastada pela violência jihadista. Mali e Burkina Faso, liderados por militares golpistas, aproximaram-se da Rússia. O país é um vasto território desértico empobrecido, e o golpe de Estado desta semana foi o quinto bem-sucedido desde que a nação conquistou sua independência da França em 1960. O último havia ocorrido em fevereiro de 2010, quando o presidente Mamadou Tandja foi derrubado.
Fonte: Por AFP — Niamei, Níger