Luis Nassif: A financeirização se apropria dos recursos do país

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oestadoacre reproduz texto de Luis Nassif sobre os gastos no Brasil. A distorção é gritante. A financeirização abocanha a maior parte dos recursos. Educação, saúde e infraestrutura ficam de escanteio, pois são submetidas ao teto de gastos… A financeirização é imune ao limite de gastos.


Em números, o mapa da gastança financeira do país

 

Luis Nassif – A repórter da Globonews repete pela undécima vez na semana a mesma pergunta: “O PIB surpreendeu, mas o crescimento é sustentável?”. E o velho mestre, da FGV, expele pela milésima vez a explicação que repete há décadas e décadas, desde que a Constituição consagrou direitos sociais inéditos, e décadas e décadas sem ser questionado:

Como melhorar a mão-de-obra? Investindo em educação. Mas o gasto com a educação é vinculado. Quando se propõe a desvinculação, obviamente, é para reduzir o gasto. Então como melhorar a educação reduzindo gastos com ela?

Vamos desdobrar esses bordões, para entender a lógica. E vamos aos grandes números para entender a tragédia brasileira, uma situação estratificada que só será resolvida no âmbito de uma grande crise futura, sabe-se lá quando.

As despesas vinculadas são as seguintes:

No ano passado, o governo gastou

Com Educação o governo federal gastou

No mesmo período, 2023, o governo gastou R$ 654 bilhões com juros da dívida pública interna, ou 6,5% do Produto Interno Bruto.

Em 2023, a dívida pública sofreu um aumento de R$ 300 bilhões, passando de 58% para 60% do PIB.

Se o governo gastou R$ 654 bilhões com juros da dívida interna, e a dívida aumentou R$ 300 bilhões, saíram recursos de outros canais.

Com Concessões e Privatizações o governo arrecadou R$ 45 bilhões. Com as estatais (que o mercado quer ver privatizadas) recebeu R$ 65 bilhões de dividendos da Petrobras, R$ 20 bilhões do Banco do Brasil e R$ 24 bilhões de outras estatais. Outros R$ 34 bilhões foram provenientes de leilões do pré-sal e de direitos de mineração.

Os spreads bancários

Não fica por aí a maneira como a financeirização se apropria dos recursos nacionais.

No mesmo 2023, o valor médio do spread bancário foi de 15 a 20%, dependendo do crédito e do perfil do investidor. Em 2023 o volume total de crédito bancário foi de R$4,6 trilhões. Desse total, R$1,6 trilhão foi para pessoa física, ou R$320 bilhões em spread.

Na França, o spread médio para pessoa física é entre 2% e 4%. A diferença entre um spread de 4% e 20% é de R$256 bilhões. Ou seja, se os consumidores fossem franceses, haveria R$ 256 bilhões a mais de recursos nas mãos deles ou no mercado de consumo.

Já o crédito para Pessoa Jurídica foi de R$2,4 trilhões. O spread bancário foi de 15% a 18%. Fiquemos com 15%. Na França, o spread é entre 1% e 2%. Fiquemos com 2%, A diferença entre 15% e 2% de spread equivale à subtração de R$736 bilhões da atvidade produtiva.

Na outra ponta, o investimento privado no Brasil foi de R$370 bilhões em 2023. Desse total, R$80 bilhões foram de multinacionais. R$110 bilhões foram financiados pelo BNDES, portanto fora do circuito financeiro. Outros R$80 bilhões foram pela Caixa Econômica Federal.

Já os IPOs, glória da Faria Lima, não passaram de R$11 bilhões.

O volume de reaplicação de lucros, das empresas listadas na B3, foi de R$45 bilhões. Já seus custos financeiros foram de R$120 bilhões.

Na tabela abaixo, você tem po rascunho da derrocada da economia brasileira.

(LN, do GGN)

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