Da Agência Sputnik – agora em parceria com oestadoacre
Putin quer manter Dilma no banco do BRICS por ela enfrentar briga pela desdolarização
Ana Lívia Esteves – Presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs a extensão do mandato de Dilma Rousseff no Banco do BRICS por mais cinco anos. Empenho de Dilma para desbancar a hegemonia do dólar e prestígio pessoal da ex-presidente junto aos líderes da Rússia e China explicam sua permanência no banco, avaliam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
A Rússia propôs a extensão do mandato de Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do BRICS, por mais cinco anos. Desta forma, Dilma ficaria no cargo durante a presidência russa do banco, que terá início em 2025.
“A Rússia propôs estender a presidência do Brasil e da presidente do banco, a sra. Rousseff, tendo em vista que este ano o Brasil ocupa a presidência do G20 e no próximo ano assume o bastão de nós e liderará o BRICS”, disse Putin durante a Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, realizada em Kazan.
O convite aponta para a convergência entre as agendas de Dilma Rousseff no banco e as prioridades das autoridades russas, acreditam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil. Além disso, Rousseff angariou a confiança não só do presidente russo, Vladimir Putin, como a do seu homólogo chinês, Xi Jinping, que a condecorou com a mais alta medalha concedida pela China a estrangeiros.
De acordo com o professor livre-docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON) Bruno de Conti, a abordagem de Dilma Rousseff no Banco do BRICS coincide com a das lideranças russa e chinesa.
“Em vários aspectos, ela compartilha a percepção dos desafios geopolíticos que o Sul Global […] enfrenta hoje”, disse De Conti à Sputnik Brasil. “Dilma se mostrou disposta a enfrentar a briga pela por transformações da ordem geopolítica internacional […] e enfatizou a agenda de desdolarização e foco nas moedas nacionais, o que agrada tanto ao Putin, quanto ao Xi Jinping.”
A proposta de Vladimir Putin também tem a intenção de evitar que sanções econômicas impostas por EUA e seus aliados contra a Rússia prejudiquem os trabalhos do banco. Segundo o líder russo, o banco é relevante para a Rússia e, portanto, deve ser protegido da ação de agentes externos.
“Não vou esconder o fato de que sabemos da situação da Rússia [em relação às sanções econômicas] e não queremos transferir todos os problemas associados a isso para as instituições em cujo desenvolvimento nós mesmos estamos interessados“, disse o presidente russo, Vladimir Putin. “Nós lidaremos com nossos próprios problemas.”
“A Rússia quer muito que o NDB avance, […] e, por isso, não quer transferir a problemática das sanções para o banco”, disse Rodriguez à Sputnik Brasil. “O presidente Putin foi muito acertado em fazer essa proposta de extensão para a manutenção de Dilma na presidência. E isso reflete a apreciação, tanto da Rússia quanto da China, do bom desempenho dela à frente da instituição.”
“No início, havia críticas de que a escolha de Dilma para liderar o banco havia sido política. Mas esse banco foi criado por propósitos políticos. Não há como fugir dessa realidade, pelo contrário, é isso o que faz esse banco interessante”, disse De Conti. “O NDB pode e deve ser um instrumento geopolítico para enfrentar as assimetrias globais, sobretudo nos sistemas monetários e financeiros.”
“Dilma tem repetidamente se manifestado em favor do alargamento do BRICS e, durante a Cúpula de Kazan, se expressou sobre a pertinência do NDB ser um banco dos países do Sul Global”, disse De Conti. “Então, há perspectiva de continuidade da expansão do banco, em paralelo ao aumento do uso de moedas nacionais.”
“O Banco ainda depende do mercado de capitais internacional. Caso as agências de rating diminuam a nota do banco, ele terá que captar recursos pagando taxas mais altas. Então vemos claramente aqui a armadilha do dólar”, lamentou De Conti.