Quando o secretário de Educação do Acre, Aberson Carvalho, comemora a recuperação da educação estadual com números “animadores” do Enem 2024, a sensação que fica é de um otimismo forçado. A comparação com o período de 2018 a 2023, marcado por uma pandemia, certamente apresenta um respiro, mas seria prudente tratar essa suposta recuperação com a cautela que o cenário exige.
É claro que a adesão de 100% dos concluintes da rede pública ao Enem 2024 é um feito importante. Mais de 8,4 mil alunos participaram, sendo 19% de comunidades indígenas e rurais. Um dado que soa positivo à primeira vista, mas será que isso é o suficiente para apagar a marca da “década perdida” que a pandemia deixou? Se olharmos para a média estadual, que não passou de 600 pontos, e considerarmos que os alunos indígenas e de áreas rurais superaram a média geral com 620 pontos, percebemos que o salto ainda é tímido.
E quem está comemorando a nota de 920 pontos na redação é a estudante Tayla Paulino Sales Kaxinawá, que merece todo o reconhecimento pela sua trajetória, mas também é preciso refletir sobre o custo disso. Uma jovem indígena, moradora de uma área de difícil acesso, que teve que contar com o apoio de professores e familiares. Uma vitória pessoal, sim, mas também um retrato de como a educação pública no Acre, e no Brasil, ainda depende de “ajudas extras” para garantir um mínimo de acesso à qualidade.
O discurso do GdA sobre a implantação de 120 laboratórios multidisciplinares desde 2019 parece se contrapor à realidade que muitos estudantes enfrentam, onde as dificuldades em áreas como Matemática e Ciências da Natureza ainda são gritantes.
Num estado onde a educação deveria ser uma prioridade, o que temos visto são soluções paliativas e uma falta de acompanhamento contínuo. Os resultados do Enem 2024, por mais que representem uma leve melhora, não são suficientes.
(…)
(oea)