Por Gregório José – Uma pesquisa recente da Gallup confirma uma verdade que a gente já desconfiava: ajudar os outros faz bem, e não só para quem recebe. Mas o que chama atenção não é só essa constatação meio óbvia — e sim o quanto subestimamos a hold alheia.
Pesquisadores saíram por aí “esquecendo” carteiras no meio da rua e descobriram que a taxa de devolução era muito maior do que as pessoas imaginavam. Ou seja, apesar de todo dia sermos bombardeados por notícias de golpes, roubos e armadilhas, ainda há mais gente decente no mundo do que a nossa paranóia sugere.
Outro achado curioso: em sociedades onde as pessoas acreditam mais na generosidade alheia, a felicidade é melhor distribuída. Ou seja, o bem-estar individual não vem só do próprio bolso cheio ou da conta bancária gorda, mas da sensação de que, se um dia a coisa apertada, alguém vai te estender a mão.
E tem mais. A tal “onda de benevolência” provocada pela pandemia não evaporou totalmente. É verdade que caiu um pouco desde 2023, mas ainda está 10% acima do que era antes da COVID. Não sufoco, as pessoas se ajudam mais, e esse reflexo persiste. Talvez porque, ao contrário do que muita gente pensa, ser solidário não é só um gesto nobre — é uma isca de investimento na própria felicidade.
Mas tem um detalhe fundamental: a generosidade só gera esse efeito positivo quando é genuíno. Se o sujeito ajuda o próximo só para se sentir virtuoso, o benefício é bem menor. Vale para tudo: doar dinheiro, fazer trabalho voluntário ou até mesmo um simples “bom dia” para um desconhecido.
E olha que a pesquisa também jogou luz sobre algo que a gente sente na pele, mas talvez não saiba explicar o impacto devastador da solidão. Comer sozinho com frequência, por exemplo, está diretamente ligado a uma piora no bem-estar. E a América Latina, famosa por seus almoços barulhentos e famílias grandes, ainda consegue segurar um pouco essa onda. Mas, em outros cantos do mundo, cada vez mais gente está jantando sozinha, o que ajuda a entender por que o índice de felicidade anda em queda livre.
Agora, aqui vai o ponto mais preocupante: a juventude. Entre 2006 e 2023, o número de jovens que dizem não ter ninguém para contar aumentou 39%. E como todo bom drama humano, a tragédia não para por aí. Quanto mais isolado o sujeito se sente, mais ele acredita que ninguém vai ajudá-lo. Um erro brutal. Em um experimento nos Estados Unidos, estudantes que receberam provas da generosidade dos colegas ficaram significativamente mais felizes.
No fim das contas, o que nos salva não é o dinheiro no bolso, nem o emprego dos sonhos, nem a aposentadoria planejada — é a certeza de que, se um dia cairmos, haja uma mão realizada. Qual é a melhor maneira de garantir isso? Simples: seja essa mão primeiro.
Gregório José