Ifac
No Acre, uma pesquisa liderada pela professora Williane Martins, do Ifac, identificou três novas espécies de parasitas em peixes do tipo mandubé (Ageneiosus inermes), comuns na região. O estudo foi realizado em parceria com a Fiocruz e publicado em dezembro de 2024 em revista internacional.
Os parasitas — Demidospermus juruaensis, D. bifurcatus e D. takemotoi — foram descobertos nos rios Juruá e Moa, em Cruzeiro do Sul. A região abriga uma das maiores diversidades de peixes do mundo.
Parte do projeto “Biodiversidade de parasitos de peixes do estado do Acre”, a pesquisa busca catalogar espécies pouco conhecidas, reforçando a importância dos parasitas como indicadores da saúde dos rios amazônicos.
“Conhecer esses organismos é essencial para entender o equilíbrio dos ecossistemas e os impactos ambientais”, afirma a pesquisadora.

Jovens cientistas na prática
Além do impacto científico, o estudo tem uma função igualmente ousada: proporcionar aos jovens amazônicos a vivência completa do ofício científico. Alunos do Ifac participaram ativamente de todas as etapas da pesquisa, desde as coletas nos rios até o processamento do material no laboratório.
“O Instituto Federal do Acre não se limita à sala de aula. Aqui, ensino, pesquisa e extensão caminham juntos. Nossos estudantes vivem o processo científico na prática: coletam, escrevem artigos, apresentam trabalhos. Isso muda o futuro dessas pessoas”, diz Williane.
A estrutura usada no Acre é resultado de um convênio entre o Ifac e a Fiocruz, que capacitou mais de 20 doutores na região. Um desses frutos é o Laboratório de Biodiversidade do Ifac, instalado em Rio Branco, no Campus Baixada do Sol, onde boa parte das análises da pesquisa foi realizada.

Risco zero para humanos, impacto real na piscicultura
Os parasitos descobertos habitam as brânquias dos peixes, estruturas responsáveis pela respiração. Apesar de não apresentarem risco de transmissão para humanos por não serem encontrados na musculatura do peixe, os parasitos podem causar danos à piscicultura, principalmente em sistemas de cultivo intensivo.
“Em infestações severas, esses organismos podem levar o peixe à morte, comprometendo a produção e gerando perdas econômicas significativas para o piscicultor. Em cativeiro, o desequilíbrio favorece a proliferação desses parasitos”, alerta Williane.
Por precaução, recomenda-se o consumo do pescado sempre bem cozido, assado ou frito. O aquecimento é suficiente para inativar possíveis formas larvais de outras espécies parasitárias.
A Amazônia é o pulso
A Amazônia abriga 13% da água doce do mundo e mais de 2.500 espécies de peixes já descritas, mas esses números são a primeira camada de desdobramentos muito mais complexos e até desconhecidos. A pesquisa conduzida por Williane e sua equipe é um lembrete de que há um ecossistema sob as águas amazônicas que ainda precisa ser compreendido.
E para além da pesquisa de laboratório, trata-se de um projeto de território. É a ciência interiorizada no bioma, elaborada por quem conhece e vive o pulso da floresta e dos rios. Ciência pública, produzida com recursos limitados, no entanto, voltada à preservação da Amazônia, ao compromisso com o conhecimento e à formação cidadã dos que nela vivem.
“Nosso trabalho não é só sobre parasitos. É sobre ecossistemas, soberania e formação científica para que possamos continuar estudando, defendendo e existindo nesse lugar”, conclui a professora Williane.