[Médico mineiro mandou uma mensagem para o presidente da Indonésia em dois idiomas afirmando que os brasileiros “apoiavam o fuzilamento de Marco Archer” e que os apelos de Dilma não representavam o sentimento do povo brasileiro]
Autor – Pragmatismo Político
A execução do brasileiro Marco Archer na Indonésia, fuzilado após condenação por tráfico de drogas foi um dos temas que mais pautaram a imprensa brasileira nos últimos dias.
Até mesmo a presidente Dilma Rousseff envolveu-se pessoalmente no caso para tentar salvar a vida do brasileiro. Seu antecessor, o ex-presidente Lula, também já havia realizado pedido de clemência na época em que governava o País e, não fosse pela mudança presidencial na Indonésia, a suspensão da execução de Marco Archer estava na iminência de acontecer. É importante ressaltar que, caso a clemência fosse acatada, o brasileiro provavelmente continuaria preso pelo resto da vida.
Só que o ex-presidente Susilo Bambang, que mantinha boas relações diplomáticas com o Brasil, foi sucedido por Joko Widodo, que faz (ou finge fazer, já que atualmente a mesma Indonésia pede clemência para uma condenada à morte na Arábia Saudita) um tipo mais linha dura e prometeu, durante sua campanha eleitoral, ser mais rigoroso com os condenados por tráfico de drogas na Indonésia.
Nas redes sociais as discussões se acaloraram e uma hashtag que pedia o perdão pela vida de Marco Archer figurou entre os assuntos mais comentados do Twitter. Em sentido oposto, algumas pessoas manifestavam apoio ao fuzilamento; entre elas, a apresentadora Rachel Sheherazade.
Mais incisivo, porém, foi o posicionamento do médico mineiro João Paulo Faria. Ele mandou uma mensagem via Twitter endereçada ao presidente da Indonésia, Joko Widodo, dizendo falar em nome do povo brasileiro e afirmando que o Brasil apoiava a execução do carioca Marco Archer. O tuíte foi escrito em inglês e no idioma da Indonésia.
É evidente que a mensagem do médico não teve influência nenhuma para o desfecho do caso e provavelmente sequer foi lida, mas a sua atitude sórdida suscita algumas questões macabras. O que leva alguém a torcer pelo fuzilamento de alguém, como se estivesse numa arquibancada acompanhando uma partida de futebol na expectativa de comemorar um gol? De onde surge a motivação para pedir a execução de um sujeito que tentou entrar com 13,5kg de cocaína em um outro país?
Será que o médico mineiro João Paulo Faria, que nas redes sociais e em seu blog faz questão de demonstrar todo o seu apreço pelo senador Aécio Neves, exigiria a mesma punição aos responsáveis pela carga de 500kg de cocaína encontrada dentro do helicóptero dos seus conterrâneos, os Perrella?
Admirador de Rodrigo Constantino (da revista Veja), crítico dos médicos cubanos e autor de um blog chamado ‘Médico Liberal’, João Paulo Faria não será capaz de diagnosticar a si próprio, mas está claro que sofre de indignação seletiva e falso moralismo.
[Originalmente publicado em Pragmatismo Político]