#pastorricardogondim
– Não fosse a vagabundagem de poetas, músicos, saltimbancos, repentistas, talvez a beleza que nos restaria fosse das marchas militares com soldados enfileirados em passo de ganso.
Pastor Ricardo Gondim – Vez por outra palavras viram xingamentos; ganham a boca do povo e servem para demonizar o outro: “subversivo”, “terrorista”, “fascista”, “comunista”, “bicha”.
Etiquetar alguém com palavrões não custa muito. Jogar lama nas Genis da vida não precisa de artifício. Marcar a testa de novos Cains é mais fácil do que se imagina.
Martin Luther King foi “comunista”, Nelson Mandela, “terrorista”, Dom Helder Câmara, “bispo vermelho”.
Num piscar de olhos, quem pensa além dos cadernos quadriculados da religião é herege. Quantos cantores, poetas e escultoras foram estigmatizados com aspereza.
O mundo, porém, deve a gente que já foi chutada, vilipendiada e perseguida. Não fosse a vagabundagem de poetas, músicos, saltimbancos, repentistas, talvez a beleza que nos restaria fosse das marchas militares com soldados enfileirados em passo de ganso.
Pretendo seguir Jesus mesmo que vários xingamentos caibam nele, inclusive de “vagabundo”. Jesus não tinha casa fixa, vivia de doações, rodeou-se de mulheres e tinha entre os apóstolos, zelotes.
Jesus foi mal afamado por gente “de bem” – os sisudos guardiões dos bons costumes tentaram ofendê-lo chamando-o de glutão e beberrão.
Não admira tanto ódio dos ínclitos religiosos. Seu movimento era subterrâneo e marginal. Jesus ia a favelas, tocava em leprosos, ouvia mendigos.
Devem tê-lo chamado de vândalo em sua “baderna” de virar as mesas dos cambistas.
Noto um esforço esquisito de tentar “normalizar” Jesus como líder de uma religião pequeno-burguesa, conservadora, reacionária. Procuram fazer dele um carimbador do atual movimento evangélico que surfa na riqueza, no poder e na glória humana. Acontece que esse Jesus, assim domesticado e assim engessado por instituições ávidas por notoriedade e apequenado na ganância do lucro, não tem nada a ver com o Unigênito de Deus.
Será que gritaram “vagabundo, vagabundo, vagabundo” enquanto ele carregava a cruz pela Via Dolorosa? Nunca saberemos. Estou certo que desejo segui-lo exatamente por ser tão fora do molde.
Teólogo Ricardo Gondim – Igreja Betesda
Texto famoso – Deus nos livre de um Brasil evangélico