#cronica
Dandão decepcionou-se com a praia de Itapuã…aquela que Vinícius tornou famosa com a música…oestadoacre reproduz a crônica do tricolor abaixo
A queda do Bahia e a tarde de Itapuã
Francisco Dandão – Passei uma semana na Bahia, acompanhado de todos os deuses, orixás e santos. Fazia quase dez anos que eu não ia a Salvador. O tempo ausente, porém, não mudou muita coisa de lugar. Continuavam por ali as mesmas cores das igrejas do Pelourinho, do elevador Lacerda e do Mercado Modelo.
Um lugar onde eu ainda não havia posto os pés era a praia de Itapuã. Essa praia fica bem longe do centro de Salvador. Por isso eu jamais a havia visitado. Agora, como eu preferi me hospedar num resort na praia de Catussaba, fiquei pertinho de Itapuã. E acabei indo dar uma olhada por lá.
Eu queria saber se o lugar era tudo aquilo cantado na música do poetinha Vinícius de Moraes. Sentar num banco de praça, ouvir o mar e tomar uma água de coco (Vinícius, provavelmente, misturava coco com uísque). E pra entrar mais ainda no clima, até vesti um velho calção de banho.
No fim das contas, apesar de um sol lindamente vermelho descendo no horizonte, tive a impressão de que a praia de Itapuã cantada por Vinícius se acabou (ou nunca existiu). A faixa de areia é por demais estreita, o som dos bares é alto e os locais olham para os visitantes como para invasores.
Mas o que mais me impressionou nessa minha passagem pela Bahia de Jorge Amado, Glauber Rocha, Caetano Veloso, Bell Marques, Ivete Sangalo, Gilberto Gil, João Ubaldo Ribeiro, Tieta do Agreste e Dorival Caymmi (entre muitos outros) foi a paixão dos baianos pelo futebol.
Justo nessa semana da minha passagem pela Boa Terra, o Esporte Clube Bahia decidia sua sorte no campeonato brasileiro. Se vencesse o Fortaleza, fora de casa, permaneceria na série A. Se perdesse ou empatasse, dependeria de uma combinação de resultados. Uma dança num fio de espada!
Pois o Bahia perdeu, de virada, para o Fortaleza e os seus concorrentes diretos pela permanência na série A venceram. O Bahia foi rebaixado para a série B de 2022. E a Boa Terra caiu em estado de depressão profunda já na própria noite da derrota. E no dia seguinte foi decretado o luto dos tricolores!
Eu havia feito amizade com dois sujeitos de uma barraca de praia: o Jean (garçom) e o Epaminondas (proprietário). Os dois haviam se declarado, na véspera, torcedores do Bahia. E nas nossas conversas anteriores ao jogo do descenso ambos me garantiram que não havia perigo algum do time cair.
No dia seguinte à queda, quando cheguei à praia só encontrei o Jean. Quando perguntei-lhe pelo patrão, ele me respondeu que o Epaminondas costumava fechar a barraca por vários dias após uma derrota. E nem atendia o telefone. E que, às vezes, ele jamais voltava a trabalhar no mesmo lugar.
Francisco Dandão – poeta, compositor, escritor, jornalista e tricolor