Ao se debruçar sobre o estudo da sociedade industrial do século XIX, Émile Durkheim percebeu a importância de se compreender os fatores que explicariam a organização social, isto é, compreender o que garantia a vida em sociedade e uma ligação (maior ou menor) entre os homens. Chegou à conclusão de que os laços que prenderiam os indivíduos reciprocamente nas mais diferentes sociedades seriam dados pela solidariedade social, sem a qual não haveria uma vida social, sendo esta solidariedade do tipo mecânica ou orgânica.
O homem moderno sofre com as transformações ocorridas ao longo do século XX: os avanços da ciência e da tecnologia, que aumentam exponencialmente com o desenvolvimento da sociedade da informação; o crescimento gradativo e insustentável do consumo; o individualismo e as relações “líquidas”, onde os vínculos são colocados em segundo plano nas relações interpessoais.
O conceito de modernidade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman e diz respeito a uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos. O conceito opõe-se, na obra de Bauman, ao conceito de modernidade sólida, quando as relações eram solidamente estabelecidas, tendendo a serem mais fortes e duradouras.
Este processo, entretanto, não extinguiu a necessidade humana fundamental de um impulso de afeição e espontaneidade nos relacionamentos com os outros, o que coloca em questão a própria noção de solidariedade, contrastando com a hegemonia do pensamento racional-utilitarista e a doutrina neoliberal.
O maior desafio, talvez, seja o de compatibilizar uma concepção abrangente de justiça social inclusiva que possa, ao mesmo tempo, dar conta das especificidades de certas comunidades mais vulneráveis. A combinação de uma política geral que parte de princípios éticos abrangentes com alguns programas de intervenção que contemplam situações de maior vulnerabilidade pode ser o caminho para uma resposta a esse impasse aparente.
O Natal se aproxima e as ruas se contaminam com uma espécie de solidariedade natalina, que é admirável, doações são feitas, bons sentimentos tomam conta de nossos corações, anseios e ações.
Mas esse pensamento não deve servir como lenitivo do que não fizemos e do que não somos, mas do que queremos ser e aplicar diariamente em nossas vidas.
Em 1985 um clássico é lançado pelos melhores cantores da época, entre eles Michael Jackson e Lionel Richie que foi o compositor e cantor. O sucesso foi gravado por 45 cantores norte-americanos no projeto USA for Africa, para arrecadou fundos para acabar com a fome e doenças, pois o país passava por momentos críticos na época e nos traz uma linda letra sobre o que aqui comentamos:
“Chega uma hora
em que ouvimos uma certo chamado
Quando o mundo deve se unir como um só
Há pessoas morrendo
E é hora de dar uma mão para a vida
O maior presente de todos
Nós não podemos continuar fingindo dia após dia
Que alguém, em algum lugar,
em breve fará uma mudança
Somos todos parte da grande família de Deus
E a verdade, você sabe,
o amor é tudo que precisamos
Nós somos o mundo, nós somos as crianças
Somos aqueles que fazem um dia mais brilhante
Então vamos começar a contribuir
É uma escolha que fazemos
Estamos salvando nossas próprias vidas
É verdade que vamos fazer um dia melhor
Apenas você e eu”.
Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues. Advogado e professor universitário.