2024 será lembrado como o ano em que o planeta enfrentou o calor mais extremo de sua história. (retrospectiva, oea)
Em 2024, foram 41 dias de calor extremo
Estudo revela recordes alarmantes e os riscos crescentes das mudanças climáticas em todo o mundo
Por g1 – Um estudo realizado por especialistas da World Weather Attribution e Climate Central destaca um aumento alarmante de calor extremo em 2024, refletindo um padrão de recordes climáticos consecutivos. Este ano, as pessoas experimentaram uma média adicional de 41 dias com temperaturas perigosas devido a mudanças climáticas provocadas pela atividade humana.
As análises são particularmente pertinentes após um período devastador, onde o calor extremo afetou diversas regiões ao redor do globo. Em junho, a escassez de água em Veracruz, México, obrigou os moradores a buscar soluções alternativas para lidar com as altas temperaturas.
A pesquisa indica que 2024 pode se tornar o ano mais quente já registrado, com eventos climáticos catastróficos ocorrendo em várias partes do mundo. De acordo com Friederike Otto, líder da World Weather Attribution e especialista em climatologia do Imperial College, “as mudanças climáticas têm um papel fundamental na intensidade e frequência dos eventos climáticos extremos, como secas e tempestades tropicais, resultando em perdas humanas e materiais significativas”.
As altas temperaturas impactaram severamente regiões como o norte da Califórnia e o Vale da Morte nos Estados Unidos, além de provocar condições insuportáveis no México e na América Central. A situação é ainda mais preocupante na África Ocidental, onde crianças vulneráveis enfrentam riscos crescentes devido ao calor extremo. Na Europa, países como a Grécia tiveram que fechar a Acrópole para proteger visitantes das condições insuportáveis.
A análise dos cientistas envolveu a comparação das temperaturas globais registradas em 2024 com aquelas esperadas em um cenário sem influências climáticas anômalas. Embora os resultados ainda não tenham passado pela revisão por pares, os métodos empregados são considerados robustos e confiáveis.
Os pesquisadores notaram que algumas regiões enfrentaram mais de 150 dias consecutivos de calor extremo. Kristina Dahl, vice-presidente de ciência climática do Climate Central, observou que “os países mais pobres estão sofrendo os impactos mais severos”, ressaltando que as mortes associadas a essas ondas de calor costumam ser subestimadas.
Otto acrescentou que “é essencial comunicar efetivamente o número crescente de fatalidades relacionadas ao calor para aumentar a conscientização sobre os perigos das ondas de calor”. O estudo enfatiza que este ano serve como um alerta sobre o iminente limite de aquecimento de 1,5 °C estabelecido pelo Acordo de Paris.
Ainda que o limite não tenha sido tecnicamente ultrapassado até agora, os cientistas alertam que a Terra pode se aproximar rapidamente desse ponto crítico. A análise abrangeu 29 eventos climáticos extremos que resultaram em mais de 3.700 mortes e deslocamentos massivos. Destes eventos, 26 mostraram vínculos diretos com as mudanças climáticas.
Embora fenômenos como El Niño tenham contribuído para agravar as condições climáticas no início do ano, os pesquisadores afirmam que as mudanças climáticas induzidas pelo homem desempenharam um papel ainda mais significativo na intensidade dos eventos registrados em 2024. O aquecimento das águas oceânicas e do ar favoreceu o surgimento de tempestades destrutivas e precipitações extremas.
Cientistas independentes reconhecem a validade dos achados. Jennifer Francis, especialista no Woodwell Climate Research Center, declarou que “sem uma redução significativa nas emissões de gases de efeito estufa, eventos climáticos extremos continuarão a se tornar mais frequentes e severos”.
A recente liberação de dióxido de carbono na atmosfera devido à queima contínua de combustíveis fósseis sugere uma intensificação dos desafios ambientais nos próximos anos. No entanto, especialistas como Julie Arrighi do Centro Climático da Cruz Vermelha afirmam que os países podem mitigar esses impactos através da preparação e adaptação às mudanças climáticas.