crentes
A manipulação religiosa e a presunção que crentes não votam na esquerda
Kairo Araújo – Outdoors espalhados pelo Brasil afirmando que cristãos não votam (ou não deveriam votar) na esquerda, dentre as motivações alegadas nas publicidades: os dizeres que a esquerda é a favor do aborto, os bandidos devem ser soltos, mais impostos etc. O interessante é que Jesus de Nazaré foi quem disse ao condenado que estava a sua destra “hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43).
Os patrocinadores dessa propaganda contra a esquerda esquecem-se dos designíos do Deus que eles supostamente seguem, ora, não foi o Nazareno que pediu para não misturar as coisas de César com as dele. E por que não houve propagandas quando o governo negligenciou vidas na pandemia? Assim como pediu para as pessoas tomarem cloroquina, não usarem máscaras, ou mesmo o ex-ministro da Saúde Pazuello que foi omisso (para não dizer criminoso) na crise do oxigênio na cidade de Manaus, em janeiro de 2021. O resultado da negligência do Presidente e do seu ex-ministro da Saúde foi a morte de milhares de brasileiros, óbitos desnecessários que poderiam ser facilmente evitados com uma gestão pautada na ciência e lógica ao invés das fake news.
Uma dessas propagandas, o painel no Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre foi retirado por determinação da Justiça Eleitoral, na quarta-feira (17), por conta de configurar propaganda eleitoral antecipada e ainda conter as tradicionais fakenews, como associar a esquerda ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Esse é o “modus operandi” de quem quer direcionar o seu voto, a mentira contumaz.
Alguns Cantores do meio gospel repetem essa falácia, a internet é outro meio que está cheio de propaganda contra a esquerda. O pluralismo político é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, consagrado no Inciso V do Artigo 1º da Constituição Federal de 1988 e, implica que não haja nenhum tipo de discriminação, seja de ordem cultural, filosófica, intelectual, moral, religiosa etc.
Portanto, votar ou não na esquerda é uma questão do cidadão brasileiro que vai decidir coisas concernentes a esse país extremamente plural e diverso, inclusive no campo religioso. A competência do seu pastor é falar das coisas do seu Deus, que é o da maioria, mas não de todos os brasileiros (temos os candomblecistas, os judeus, os umbandistas etc.), até porque se Jesus desejasse, poderia ter aceitado todos os reinos e tesouros do mundo oferecidos por Satanás (Mateus 4:8-11), ou ele mesmo poderia voltar a terra e governar a humanidade.
Parece que o Deus desses senhores não passa de um instrumento de marketing, um símbolo para o comércio que eles realizam com a fé, um meio e não um fim. A relação de promiscuidade com o poder é deplorável a luz do cristianismo, pois até onde sabemos Jesus não se envolveu com a política. Mas aqui a interpretação é outra, há a bancada evangélica e tudo mais, claro, um religioso pode participar da vida política do seu país, o problema é instrumentalizar e comercializar a fé para este fim.
Tornar a religião, mero instrumento para se alcançar coisas do mundo é desvirtuar o que as pessoas têm de mais sagrado. O cristianismo prega à bondade, o amor, à vida eterna e não o bolsonarismo, a direita ou a esquerda. Alguns líderes neopentecostais se assemelham mais a urubus em carniça, o Brasil indo à bancarrota e eles interessados em se misturar ainda mais com esse governo pútrido, templos luxuosos que mais parecem uma loja qualquer, se aceita dízimos em pix, débito, crédito, dinheiro etc. O dono da igreja que anda em jatinho, enquanto muitas das suas ovelhas têm mal o que comer. São esses os que querem manter um presidente, que só interviu no preço dos combustíveis por questões eleitoreiras.
Ainda vivemos em um Estado laico, mas a intromissão dos neopentecostais na política do país é algo perigoso, porque, a pluralidade religiosa é ameaçada quando se concentra muito poder em um só segmento da sociedade. Há a tentação de legislar em causa própria e direcionar as leis para as pautas e costumes da moralidade cristã, quando notarmos, adeus à diversidade religiosa. É bom lembrarmos, que temos muitas pessoas em situação de rua e miserabilidade no Brasil, no entanto, multiplicam-se templos ostentosos e luxuosos, é um contraste incongruente com o mandamento de amar o próximo como a si mesmo.
(Kairo Araújo, formado em Español e cursando História na UFAC)
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