Tudo é política!
sábado, julho 5, 2025
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
OEstadoAcre.com
  • Capa
  • Últimas Notícias
  • Acre
  • Sena Madureira
  • Diversos
  • Vídeos
  • Capa
  • Últimas Notícias
  • Acre
  • Sena Madureira
  • Diversos
  • Vídeos
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
OEstadoAcre.com
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Home Acre

Secam rios voadores e… as hidrelétricas do Brasil

Estudo inédito aponta: desmatamento da floresta amazônica compromete o regime de chuvas de todo o país – e pode afetar o funcionamento de 17 das 20 maiores usinas. Centenas de milhares de pessoas ficariam sem eletricidade. Como evitar o colapso?

por oestadoacre.com
31 de outubro de 2024
em Acre
Secam rios voadores e… as hidrelétricas do Brasil

Foto: Revista Piauí

Mandar no Zap

Por Matheus Pichonelli, na Piauí – Omamari a é como os povos ianomâmis chamam o espírito do Sol. Quando a floresta é incendiada, eles acreditam que a entidade pousa os pés na copa de árvores e pisoteia as águas que irrigam as colinas, as montanhas e as fazendas de onde vem o fogo, produzindo assim as ondas intensas de calor. “Por isso que todos os xamãs trabalham juntos durante esse tempo (de seca). Chamamos a chuva. Nossos espíritos lançaram jorros d’água sobre as chamas e seus ventos no ataque à fumaça”, escreve o xamã Davi Kopenawa em um dos capítulos do livro O Espírito da Floresta, feito em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert.

A versão científica da crença ianomâmi tem nome: rios voadores. São correntes de ar que partem da Amazônia, margeiam o Leste da Cordilheira dos Andes e transportam umidade para boa parte do Brasil. É o que garante a vazão dos rios e, consequentemente, a irrigação das plantações. Mas isso só acontece, claro, se existirem árvores no caminho. Elas formam um corredor que recarrega essas correntes de ar com umidade e permite a chegada da água a milhares de quilômetros da floresta.

Ao passar por uma área desmatada, essas correntes de ar perdem umidade – já que não têm o corredor formado pelas florestas  – e a força das chuvas no trajeto.

Em tempos de seca e queimadas, esses rios voadores secam e se transformam em rios de fumaça. Como se de fato alguém pisoteasse uma mangueira hídrica que move o país. No caso literalmente, já que a hidroeletricidade, cada vez mais ameaçada pela falta de chuvas, é a principal fonte de geração do sistema elétrico brasileiro (60,2% da geração total em 2023).

Nada menos do que 17 das 20 hidrelétricas com maior capacidade no Brasil estão no caminho dos rios voadores, e o impacto da devastação já foi cientificamente mensurado em duas delas. É o que aponta um estudo do projeto Amazônia 2030, uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a maior floresta tropical do planeta, e do Climate Policy Initiative (CPI) da PUC-Rio. Intitulada (Des)matando as hidrelétricas: a ameaça do desmatamento na Amazônia para a energia do Brasil, a pesquisa parte da análise de dois casos para explicar por que a água não está chegando aos reservatórios. O relatório contou com apoio financeiro de Instituto Clima e Sociedade (iCS), Itaúsa e Norway’s International Climate and Forest Initiative (NICFI).

Para calcular a influência da floresta na formação dos rios voadores e seu impacto nas usinas hidrelétricas, o estudo toma como base o desmatamento de aproximadamente 690 mil km², acumulado entre 1985 e 2020, no bioma Amazônia. A partir deste dado, os pesquisadores simularam um cenário sem esse nível de desmatamento para estimar o volume de chuva ausente e os  respectivos prejuízos.

O primeiro exemplo é a Usina Hidrelétrica Teles Pires, localizada entre os estados de Mato Grosso e Pará. Com início de operação em 2015, ela tem  potência de 1.820 megawatts. A unidade já opera todos os meses com perdas entre 2,5% e 10% como resultado do desmatamento e da falta de chuvas. Isso significa uma redução de 118 milhões de reais de sua receita anual e diminuição da oferta de energia para, ao menos, 330 mil pessoas.

Outros exemplos estudados são três usinas da Bacia do Paraná, entre Goiás e Mato Grosso do Sul: Salto, Salto do Rio Verdinho e São Domingos, todas com potência bem inferior (116 mw, 93 mw e 48 mw, respectivamente) à de Teles Pires. De acordo com a pesquisa, elas foram escolhidas não só pela relevância da região na oferta de eletricidade ao país, mas porque têm pouca capacidade de armazenamento de água, o que permite observar o efeito direto da vazão do rio nas instalações. Constatou-se que, entre 2000 e 2022, as perdas de geração de energia tiveram média de 3% e queda de 10% do lucro nas três hidrelétricas, mesmo estando a quilômetros da floresta tropical e do cenário de desmatamento.

As consequências desse esvaziamento são drásticas, a começar pelo bolso do consumidor, que tende a conviver com tarifas cada vez mais altas caso a geração hídrica entre em bandeiras vermelhas devido à estiagem ou – pior – seja substituída por termeletricidade, com severo impacto ambiental da energia produzida a partir de recursos fósseis.

A partir dos dois casos estudados, é possível concluir que o desmatamento na floresta amazônica pode já ter reduzido em até 10% a capacidade de geração de energia no Brasil. “É muito assustador pensar que o desmatamento na Amazônia causa efeito na Bacia do Paraná, a quilômetros dali. Mas o mecanismo é muito claro”, explica Gustavo R. S. Pinto, analista sênior do Climate Policy Initiative (CPI) da PUC-Rio, que assina o relatório com os pesquisadores João Arbache, Luiza Antonaccio e Joana Chiavari.

De fato, o estudo praticamente desenha o fenômeno para quem ainda não entendeu. A começar pelas empresas do setor elétrico, que geralmente concentram as ações sociais nas comunidades do entorno de sua área de atuação, e não no combate ao desmatamento em florestas distantes. O pesquisador classifica esse mapeamento do caminho da água até as usinas como um grande alerta. Mas falta sensibilizar essas companhias. “Poucos dão atenção a questões que acontecem fora da própria bacia hidrográfica. Desconheço discussões em fóruns do setor para discutir o que acontece a mil quilômetros de distância…”

Isso acontece, segundo ele, porque, até pouco tempo, o impacto do desmatamento nos rios voadores não tinha a materialidade que tem hoje. Precisou a fumaça vinda da floresta fechar o céu e provocar doenças respiratórias em São Paulo para que o fenômeno fosse compreendido – e sentido na pele, além do bolso.

Gustavo Pinto explica que a seca dos rios voadores não necessariamente está acoplada à crise das mudanças climáticas. “Mesmo se não houvesse um fenômeno global, o desmatamento estaria afetando a geração de energia. Aquela árvore que ia evaporar a água deixa de existir, e as chuvas não são transportadas.”

O estudo aponta saídas para evitar o colapso. Identificar as categorias fundiárias das áreas de maior interesse das usinas é uma delas. No estudo, elas estão divididas em cinco segmentos:  Terras Indígenas (TIs); Unidades de Conservação (UCs); assentamentos da reforma agrária; florestas públicas não destinadas e imóveis privados. Com exceção dos imóveis privados, todas as demais categorias são responsabilidade do poder público. Desta forma, garante a pesquisa, é importante que entidades reguladoras e forças de segurança, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), Polícias Federal e estaduais, Exército e Força Nacional de Segurança Pública, atuem contra os desmatamentos ilegais.

No caso da Usina Hidrelétrica de Teles Pires, a principal categoria fundiária é a de terras indígenas de etnias como Kayabi, Munduruku e Apiaká. Assim como em outras reservas indígenas, está também sujeita a invasões ilegais de terceiros e desmatamento. O resultado: menos chuva, menos água em reservatório, menos energia limpa e barata. Assim, os pesquisadores reivindicam “atividades de monitoramento e fiscalização pelo poder público para a proteção da floresta”. Ressaltam também que, como as TIs são as áreas mais bem conservadas, “os indígenas devem ser beneficiados por programas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e doações para garantir o seu modo de vida e reprodução cultural”.

“Essas florestas estão preservadas há milênios. As terras indígenas preservadas prestam um serviço socioeconômico muito importante ao país, mas discussões do tipo no Congresso, por exemplo, praticamente não existem. Imagina como seria a discussão sobre a defesa dos povos indígenas se um representante do tamanho das empresas do setor elétrico sentasse na mesa agora para discutir o que podemos fazer juntos.”. Em setembro do ano passado, o Senado aprovou, em votação relâmpago, o marco temporal, que determina que as terras indígenas devem estar restritas às áreas ocupadas pelos povos na promulgação da Constituição de 1988. Organizações indígenas discordam da tese e dizem que o marco vai inviabilizar novas demarcações. O tema está sendo discutido no Supremo Tribunal Federal.

Já na Bacia do Paraná a categoria fundiária mais relevante são os imóveis privados, em tese mais distantes do alcance do poder público. Ainda assim há o que fazer. O estudo sugere, por exemplo, linhas de financiamento especiais para agricultura sustentável, incluindo manejo de pastagens, sistemas agroflorestais e integração lavoura-pecuária-floresta nessas áreas. “A pecuária pode ser relevante e produtiva sem precisar desmatar. A escolha é muito clara. A falta de chuva vai afetar esses locais também”, alerta Gustavo Pinto.

O especialista lembra que, em um contexto de transição energética, uma das vantagens comparativas do Brasil frente ao resto do mundo é justamente a capacidade de geração de energia renovável – como se aprende na escola desde cedo. “Indústrias podem querer vir pra cá porque aqui se produz de maneira limpa. Graças aos rios voadores. Sem essa matriz, deixamos de ser atrativos para investimentos.”

Segundo ele, não é impensável um cenário em que as usinas hidrelétricas se tornem obsoletas porque simplesmente não têm mais água para gerar energia. “É um grande risco.”

Matheus Pichonelli é formado em jornalismo e ciências sociais. É roteirista do ICL Notícias, com passagens na Folha de S. Paulo, iG, CartaCapital, Yahoo e UOL


Receba as notícias de oestadoacre.com direto no celular... entre na comuna


Tags: rios hidrelétricas brasil
EnviarCompartilhar2Compartilhar

Notícias Relacionadas

oestadoacre

É assim mesmo…e não há nada que não seja verdade…📹

4 de julho de 2025

Hugo Mota, apoiado pela Globo, mídia comercial e o mercado(Faria Lima) sentiram... Enfim, a esquerda fez algo de bem feito...

sena

Justiça eleitoral: Pode haver substituição de uma vereadora de Sena

4 de julho de 2025

Mudanças a caminho na composição da Câmara de Vereadores de Sena atingiria o MDB Sairia a vereadora Helissandra Matos... Decisão...

Por que ainda há o Fluminense(um dos 4 melhores do mundo)

Por que ainda há o Fluminense(um dos 4 melhores do mundo)

4 de julho de 2025

Somos o time mais rico entre os que restaram no Campeonato Mundial de Clubes. Sim, um dos quatro melhores do...

abdi

ABDI lança desafio de inovação com foco na indústria e juventude universitária

4 de julho de 2025

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), presidida por Perpétua Almeida, em parceria com a Brasil Júnior, lançou o edital...

palhetas

Dep Edvaldo: galpão novo e esperança para 27 famílias em Cruzeiro

4 de julho de 2025

Na Expoacre Juruá, o deputado estadual Edvaldo Magalhães, PCdoB, assinou convênio com a Secretaria de Agricultura (Seagri) e a Cooperbajola,...

Mais lidas

  • oestadoacre convida prefeito Gehlen para um bate-papo…

    Prefeito Gehlen mira site da capital…’Não adianta insistir’

    19 Compartilhamentos
    Compartilhar 8 Tweet 5
  • A hipocrisia conservadora e o beijo a um estado secular

    12 Compartilhamentos
    Compartilhar 5 Tweet 3
  • Justiça eleitoral: Pode haver substituição de uma vereadora de Sena

    10 Compartilhamentos
    Compartilhar 4 Tweet 3
  • 1,3 mil empregos formais em maio no Acre (Sena, melhor desempenho com mais de 1.000)

    9 Compartilhamentos
    Compartilhar 4 Tweet 2
  • A flapress tá de luto…

    9 Compartilhamentos
    Compartilhar 4 Tweet 2

Últimas Notícias

cnu

MPF pede suspensão do CNU 2025 por falhas nas cotas(isso mesmo….tem que ajustar)

5 de julho de 2025
The Guardian e isolados do Peru e Acre: ‘Não queremos contato porque vocês são maus’

The Guardian e isolados do Peru e Acre: ‘Não queremos contato porque vocês são maus’

5 de julho de 2025
Procon leva educação infantil à Expoacre Juruá

Procon leva educação infantil à Expoacre Juruá

5 de julho de 2025
Fluminense: a heresia gostosa do futebol (folhas salariais)

Fluminense: a heresia gostosa do futebol (folhas salariais)

5 de julho de 2025
oestadoacre

É assim mesmo…e não há nada que não seja verdade…📹

4 de julho de 2025
  • oestadoacre
  • Fale Conosco

oestadoacre.com
E-mail: oestadoacre@gmail.com
Ajude manter oestadoacre - Pix chave: oestadoacre@gmail.com
Resp - J R Braña B.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Capa
  • Últimas Notícias
  • Acre
  • Sena Madureira
  • Diversos
  • Vídeos

oestadoacre.com
E-mail: oestadoacre@gmail.com
Ajude manter oestadoacre - Pix chave: oestadoacre@gmail.com
Resp - J R Braña B.